
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja lançar até o fim de junho um novo índice para medir o risco de fome em famílias vulneráveis. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e destaca que essa ferramenta será fundamental para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) identificar, de forma mais precisa, as regiões com maior insegurança alimentar no Brasil.
O objetivo é ajudar o governo a alcançar a meta de retirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU até 2026, um compromisso assumido pela atual gestão. O Brasil havia saído do Mapa pela primeira vez em 2014, mas voltou a aparecer nele em 2021. O último relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) revelou que o país teve uma taxa de subnutrição de 2,8% entre 2021 e 2023, bem acima do limite de 2,5% para exclusão do Mapa. A nova edição do levantamento será publicada em julho.
CadInsan: foco nos dados municipais
O novo indicador, chamado CadInsan, usará dados do Cadastro Único e outras variáveis socioeconômicas para estimar a probabilidade de uma família estar em situação de fome. Diferente de ferramentas como a Tria, que coleta informações por meio de duas perguntas em unidades de saúde, o CadInsan trará dados mais detalhados por município, permitindo uma análise mais específica dos locais com maior necessidade de ajuda.
Isso permitirá identificar com maior clareza as áreas mais afetadas pela fome, especialmente em um cenário de grandes desigualdades regionais. Um levantamento do IBGE, com base na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), apontou que, no final de 2023, cerca de 8,7 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar grave — o que significa que estavam passando fome. Esse número representa 4,1% dos domicílios, embora tenha diminuído em relação aos 15% de 2022, continua acima do índice de 2013 (3,2%).
Uma grande dificuldade para o governo é a desigualdade na coleta de dados. De novembro de 2023 a janeiro de 2025, 13 milhões de domicílios (18% do total) responderam à pesquisa, mas a distribuição das respostas não foi igual entre as regiões do Brasil.
Regiões mais atingidas
As regiões Norte e Nordeste apresentam os piores índices de insegurança alimentar. No Norte, quase 40% dos municípios enfrentam algum grau de fome, e no Nordeste, o índice é de 38,8%. Já no Centro-Oeste e Sudeste, esse percentual fica em torno de 25%, enquanto no Sul, a incidência é a menor, com 16,6%.
Entre os estados, Pará é o mais afetado, com quase 10% dos domicílios enfrentando fome, enquanto Santa Catarina tem o menor índice, com 1,5% das residências em situação de insegurança alimentar grave.
A distribuição de equipamentos públicos de alimentação também é desigual. Dados do MDS mostram que apenas 10% dos municípios possuem bancos de alimentos — sendo que mais da metade deles são financiados exclusivamente com recursos locais. Além disso, apenas 9% das cidades têm cozinhas comunitárias, e apenas 387 municípios possuem restaurantes populares.
Sisan e o papel da federação
A estruturação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) é uma ação estratégica do MDS. O Sisan permite planejar e articular ações de combate à fome entre diversas esferas do governo e a sociedade civil. Segundo a secretária Luiza Trabuco, o fortalecimento do Sisan é essencial para alcançar a meta de sair do Mapa da Fome e evitar que o Brasil retorne a ele no futuro. O sistema também possibilita iniciativas como cozinhas solidárias, doação de alimentos e compra de produtos da agricultura familiar.
Participação no Sisan
Apesar de sua importância, apenas 30% dos municípios participam do Sisan, o que representa cerca de 1.600 cidades — mas essas localidades concentram mais da metade da população brasileira. O governo federal tem como meta expandir a adesão ao sistema para 3 mil municípios até o fim do mandato.
Para aumentar a adesão ao Sisan, a secretaria pretende condicionar o acesso a certos programas à participação no sistema, para garantir que, independentemente de mudanças políticas, as estruturas de combate à fome continuem funcionando.
Além disso, o governo também pretende apoiar a agricultura familiar, feiras locais e programas sociais como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Com a implementação do CadInsan e o fortalecimento da governança federativa, o governo busca não só retirar o país do Mapa da Fome da ONU, mas também garantir que essa conquista seja permanente e sustentável.
Fonte: Brasil 247