
“O problema não é ficar sozinho por escolha. É estar só quando se precisa de suporte”, resume a psicóloga Suzy Tiberly, especialista em Saúde da Família, ao explicar a linha tênue entre solitude e solidão. Em entrevista ao Podcasta Piauí Hoje, ela define a solitude como “tempo deliberado para recarregar a ‘bateria social’ depois de muito estímulo: o banho demorado, o livro colorido, a playlist favorita. Já a solidão surge “quando a ausência de vínculos é compulsória: mães sem rede de apoio, idosos afastados da família, jovens hiperconectados mas sem escuta ativa”. Nesse estado involuntário, acrescenta, surgem tristeza, angústia e risco maior de depressão.
A Organização Mundial da Saúde reforça o alerta. Em novembro de 2023, a entidade criou a Comissão para a Conexão Social e classificou a solidão como “ameaça global” à saúde, comparável a fatores de risco tradicionais, como tabagismo e obesidade. Uma análise conduzida pela psicóloga norte-americana Julianne Holt-Lunstad mostrou que laços frágeis aumentam em 50% o risco de morte prematura em qualquer faixa etária.
Solitude, ao contrário, pode atuar como fator de proteção. “É o momento de diálogo interno, de autocuidado, que nos devolve energia para conviver melhor”, explica Tiberly. Para identificá-la na prática, ela sugere observar sinais simples: depois de um evento social intenso, o corpo pede silêncio e descanso. Então, a pessoa consegue escolher esse retiro sem sentir abandono. Já na solidão, o isolamento dói e vem acompanhado de sensação de vazio. “A diferença principal é a escolha consciente e a qualidade emocional do recolhimento”, resume.
Como sair da solidão? A psicóloga recomenda três passos. O primeiro é checar a qualidade do contato. Refeições sem celular e jogos de tabuleiro podem reativar conversas em família. O segundo passo é buscar grupos presenciais com interesses semelhantes, como corrida, leitura, voluntariado. E, por último, procurar ajuda profissional se tristeza e ansiedade persistirem.
Ela lembra que tecnologia não é vilã, mas ferramenta: “Falar com a Alexa ou com o ChatGPT não substitui o toque nem o olhar. O segredo é usar “o on-line só como ponte para encontros off-line”. Para Tiberly, políticas públicas de convivência, como clubes de bairro a oficinas para idosos, também são urgentes. “Precisamos de ambientes que favoreçam o vínculo, ou a pandemia da solidão continuará adoecendo corpo e mente”, conclui