
Uma investigação minuciosa das Polícia Civil do Piauí revelou que pelo menos nove empresas registradas no Piauí eram usadas como fachada para encobrir um esquema de lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas. O esquema seria liderado por Alandilson Cardoso Passos, namorado da vereadora Tatiana Medeiros, que está preso em Minas Gerais.
De acordo com dados da Operação Capital Oculto, deflagrada pelo Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) para desvendar o esquema, o grupo movimentou mais de R$ 53 milhões entre 2020 e 2023 e usava empresas de fachada como escudo para esquentar os lucros ilícitos.
A investigação aponta que os investigados abriam empresas em ramos variados, como venda de automóveis, turismo, farmácia e serviços de entrega, mas nenhuma delas funcionava de fato nos endereços registrados. Em muitos casos, nos imóveis funcionavam clínicas, residências ou comércios sem qualquer ligação com as empresas formalizadas.
As empresas eram registradas em nome de laranjas, e mesmo aquelas que apresentavam alguma movimentação comercial, como a EMS Empreendimentos, eram usadas como canal para camuflar recursos ilegais, disfarçando sua origem por meio de notas fiscais frias, simulação de prestação de serviços e vendas inexistentes.
As nove empresas investigadas são:
1. D J Santos Lima Farmácia EIRELI (Farmácia Econômica)
Proprietário: Deivison José Santos Lima (foragido)
Situação da empresa: Nunca funcionou no endereço cadastrado. No local, opera uma farmácia diferente, sem relação com o CNPJ investigado.
Farmácia Econômica Foto: reprodução
2. EMS Empreendimentos
Proprietário: Eliésio Marinho da Silva
Situação da empresa: Mesmo com atuação formal no comércio de veículos usados, há indícios de que serve como fachada para lavagem de dinheiro.
EMS Empreendimentos (Foto: reprodução)
3. RM Pousada & Turismo
Proprietário: Rodolfo de Araujo Moura
Situação da empresa: Registrada como empresa do setor de hospedagem, mas no endereço funciona apenas uma casa residencial.
RM Pousada & Turismo (Foto: reprodução)
4. Empresa de entrega rápida (RD Motors Coletas e Entregas)
Proprietário: Raimundo Nonato Silva Sousa Filho
Situação da empresa: No endereço informado há apenas um imóvel residencial. Nenhuma estrutura comercial foi identificada.
RD Motors Coletas e Entregas (Foto: reprodução)
5. Empresa de comércio varejista de automóveis nº1 (Extourado Veículos)
Proprietário: Deivison Jose Santos Lima
Situação da empresa: Registrada em 2009, nunca teve veículo no local. Não há sinais de atividade.
Extourado Veiculos (Foto: reprodução)
6. Empresa de comércio varejista de automóveis nº2 (Santos Construções)
Situação da empresa: Também sem veículos, estrutura ou evidências de operação.
7. Empresa com endereço vinculado a escola de boxe e clínica odontológica (I K Retoques)
Proprietário: Alandilson Cardoso Passos
I K Retoques (Foto: reprodução)Situação da empresa: Formalmente registrada no setor automotivo desde 2009, jamais funcionou no endereço declarado.
8. Empresa com proprietário de direito
Laranja: Pedro Borges dos Santos)
Proprietário: Deivison Jose Santos Lima
Situação: Outra empresa de venda de automóveis, registrada desde 2009, que nunca funcionou de fato.
Santos Construções (Foto: reprodução)
9. Empresa que transacionava com as demais investigadas
Situação: Faz parte do circuito financeiro entre os investigados. Documentos mostram relações suspeitas com outras empresas do grupo.
Empresa fantasma (Foto: reprodução)Outras imagens do esquema divulgadas pela Polícia Civil do Piauí
Esquema da empresa fantasma (Foto: reprodução)
Todo o esquema era arquitetado pelos mesmos indivíduos (Foto: reprodução)
Esquema criminoso (Foto: reprodução)Donos e operadores
Alandilson Cardoso Passos, líder do esquema, está preso em Belo Horizonte (MG), desde dezembro de 2024. Ele acumula 19 registros criminais. Deivison José Santos Lima, apontado como braço direito de Alandilson, não foi localizado durante o cumprimento dos mandados. Ele responde a 16 processos criminais, incluindo porte ilegal de arma, ameaça e estelionato.
Na operação, 15 pessoas foram presas, Israel Boanerges Ribeiro Costa, Pedro Teixeira Soares Neto e Carla Bianca Silva Lima, todos com extensas fichas criminais por tráfico, lavagem de dinheiro e outros crimes foram presos.
Apesar de alguns serem os “donos” formais das empresas, a Polícia Civil identificou a prática constante de uso de testas de ferro, o que dificultava a responsabilização direta dos chefes da organização.
O impacto financeiro
Segundo o relatório, o grupo movimentou mais de R$ 53,4 milhões diretamente entre os investigados. Além disso, terceiros ligados à organização somam R$ 123 milhões em movimentações financeiras atípicas. O patrimônio em veículos foi estimado em R$ 8 milhões, de acordo com a tabela FIPE.
Investigação e desdobramentos
A Polícia Civil destacou que todas as empresas citadas não possuem atividade econômica real ou apresentaram indícios claros de que foram criadas apenas para disfarçar o dinheiro obtido com o tráfico de drogas. Ao todo, 265 procedimentos criminais já foram instaurados contra os envolvidos, e a investigação segue em andamento para rastrear novos vínculos e identificar outros possíveis “laranjas”.
Fonte: Polícia Civil do Piauí