Polícia

CRIME BÁRBARO

Polícia fará constituição do "Caso Vitória" na 5ª feira; Justiça impede acusado participar

Advogados alegam irregularidades no interrogatório e buscam anular confissão, enquanto polícia afirma que depoimento foi válido

Da Redação

Segunda - 07/04/2025 às 16:27



Foto: Reprodução/Redes sociais Defesa de Maicol Sales dos Santos, suspeito do assassinato de Vitória Regina de Souza, nega confissão.
Defesa de Maicol Sales dos Santos, suspeito do assassinato de Vitória Regina de Souza, nega confissão.

São Paulo (07/04) — A Polícia Civil confirmou que realizará na próxima quinta-feira (10/4) a reconstituição do crime que vitimou a adolescente Vitória Regina de Souza, encontrada morta no início de março em São Paulo. As equipes policiais devem chegar a Cajamar, na região metropolitana, por volta das 10h30 para reproduzir os fatos investigados.  

Em nota publicada no dia 24 de março, a defesa de Maicol Antônio Sales, único indiciado pelo crime, informou que a Justiça proibiu o suspeito de participar da reconstituição. Os advogados argumentam que "não há como reconstituir um crime cuja autoria e dinâmica permanecem desconhecidas". Além disso, a corte negou a realização de um exame psiquiátrico em Maicol.  

A confissão e as controvérsias

Em vídeo do depoimento à polícia, Maicol descreveu como deixou o corpo da jovem em uma área de mata após seis dias de buscas. Ele afirmou se sentir ameaçado por detentos e pelo "pessoal lá fora", negou ter raspado ou arrancado os cabelos de Vitória e sugeriu que o couro cabeludo pode ter se soltado devido ao arrastamento do corpo em decomposição. Também descartou qualquer ligação com facções criminosas, como o PCC, que havia sido apontado no início das investigações.  

Segundo a transcrição do interrogatório divulgada em 17 de março, Maicol teria dito que matou Vitória sozinho, com duas facadas, após chamá-la para uma conversa em seu carro. A motivação seria uma discussão sobre um caso extraconjugal que a adolescente ameaçava revelar à sua esposa.  

Defesa contesta validade da confissão

Os advogados de Maicol afirmam que ele não confessou o crime e que foram impedidos de conversar com ele durante o interrogatório. Eles acionaram a OAB de Cajamar, cujo presidente, Rafael Adriano da Rocha, declarou à imprensa na porta da delegacia que, "Com relação às questões meritórias ao inquérito, não estamos autorizados a passar qualquer tipo de informação. A única questão que nos foi autorizado é que não houve qualquer tipo de confissão."  

No entanto, delegados afirmaram que a confissão ocorreu na madrugada de 18 de março, após a defesa deixar a delegacia. O delegado Fábio Cenachi, responsável pelo caso, disse que nomeou uma advogada da OAB para acompanhar o interrogatório e garantir sua validade.

"A polícia também não pode estar suscetível a manobras da defesa. Se, de repente, ele sabe que aquela peça que vai ser produzida vai colidir com a linha de defesa apontada, o que faço eu? Viro as costas, vou embora e abandono o réu. Nós estamos suscetíveis a isso. Eu não posso deixá-lo desassistido, mas eu posso sim nomear um advogado, que chama 'Ad hoc' [para isto], para o ato. Foi o que eu fiz."

A advogada que acompanhou o depoimento afirmou que Maicol confessou espontaneamente após uma conversa em sala reservada.  

Defesa quer anular confissão

A equipe jurídica de Maicol entrou com um pedido de habeas corpus para que ele responda ao processo em liberdade. O documento questiona a credibilidade de outras testemunhas, como o ex-namorado de Vitória, Gustavo Vinícius, que teria mentido sobre não ver a vítima há meses — segundo rastreios telefônicos, ele esteve perto dela.  

Os advogados destacam que Maicol é réu primário, tem residência fixa, emprego e se apresentou espontaneamente à polícia, além de ter oferecido seu carro para perícia três vezes. Eles afirmam que testemunhas só o apontaram como suspeito após assistirem a noticiários e que não há relatos de ameaças por parte dele.  

"Reafirmamos que o devido processo legal deve ser respeitado em sua integralidade. A Constituição Federal e os tratados internacionais de direitos humanos não admitem procedimentos que violem direitos individuais e comprometam a busca pela verdade real. Seguimos vigilantes e adotaremos todas as medidas cabíveis para garantir que Maicol Antônio Sales dos Santos tenha um julgamento justo, sem vícios processuais ou arbitrariedades", diz a defesa.  

O caso tramita em segredo de Justiça, e o pedido de habeas corpus está sob análise do juiz João Augusto Garcia, da 5ª Câmara de Direito Criminal.

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