Arte e Cultura

DIREITOS E RESISTÊNCIA

Julho das Pretas dá visibilidade a luta e as conquistas das mulheres negras no Piauí

Movimento completa 12 anos no estado com marchas, feiras, atividades culturais e incidência política para denunciar desigualdades e afirmar protagonismo.

Da redação

Quarta - 16/07/2025 às 15:51



Foto: reprodução Julho das Pretas segue até o fim do mês.
Julho das Pretas segue até o fim do mês.

O mês de julho é mais do que uma simples data no calendário para as mulheres negras do Piauí. É o momento em que suas vozes ecoam mais forte, denunciando as desigualdades, valorizando sua história e reivindicando protagonismo. Em 2025, o movimento Julho das Pretas chega a sua 12ª edição no estado, com uma programação extensa e plural, organizada por coletivos como o Instituto da Mulher Negra do Piauí – Ayabas e o Comitê da Marcha das Mulheres Negras do Piauí.

Halda Regina, presidente do Ayabas-PI e integrante do comitê, destaca que o Julho das Pretas é uma agenda política construída pelo movimento social das mulheres negras e não pelo governo. “O mais importante é que é uma ação do movimento. Não é ação governamental. O tempo todo a gente fala sobre isso para que o governo não comemore o Julho das Pretas como se fosse uma atividade dele. Essa é uma agenda nossa, construída com o nosso nome. É o movimento que para dialogar, para protestar”, explica.

Halda Regina, presidente do Ayabas-PI 

Cultura, resistência e ocupação dos espaços

Com atividades que vão de marchas a audiências públicas, passando por feiras culturais e intervenções em escolas e comunidades, o Julho das Pretas em Teresina já promoveu avanços notáveis. Para Halda, uma das principais conquistas é a valorização da identidade negra através da cultura. “Os grupos culturais que antes não tinham onde se apresentar hoje já têm valorização. Isso foi uma luta muito intensa para mostrar a dança afro, o teatro negro, a musicalidade. Esse é um grande avanço”, celebra.

Ela também ressalta a maior presença de jovens negros nas universidades graças às cotas raciais, bem como uma incipiente voz política nos parlamentos. “Mesmo não sendo ouvido totalmente, hoje temos voz minimamente nas ocupações, na Câmara Municipal, na Assembleia. Antes não havia nenhuma”.

Outro ponto positivo apontado por Halda é a maior consciência racial nas escolas e na sociedade. “Perceber professores já falando sobre essa pauta, alunos reconhecendo sua negritude… isso é um grande avanço”, afirma.

Programação diversa

Em 2025, a programação já percorreu terreiros, ocupações urbanas, escolas e comunidades. No dia 24 de julho, será realizada a tradicional marcha em Teresina, seguida da Feira Preta no dia 25, com samba, exposição de produtos e homenagens. No dia 26, haverá uma oficina de turbantes no bairro Bela Vista, e, em 1º de agosto, um encontro com comunidades quilombolas em Paulistana com o tema Reparação e Bem-Viver.

Desafios persistem

Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos. “Existe uma desigualdade racial no país, entre a população negra e a população não negra. Precisamos melhorar o acesso à moradia, à saúde de qualidade, à educação, à cultura e principalmente ao trabalho”, alerta Halda. Lembrando que a maioria das mulheres negras chefia sozinha suas famílias e sofre com a falta de autonomia financeira.

Encontro de mulheres negras do Ayabas. 

Ela reforça a necessidade de aumentar a representatividade política. “Gostaríamos que mais mulheres negras acreditassem em outras mulheres negras para termos mais delas nos espaços de decisão. Não qualquer mulher negra, mas mulheres que venham do movimento, da cultura, da dança, da militância e que tenham consciência de que são pretas e que podem contribuir para as mudanças sociais”, diz.

Mais do que denúncia: inspiração

Para Halda Regina, o Julho das Pretas não é apenas uma denúncia das desigualdades, mas também um estímulo para que mulheres negras reconheçam sua força e potencial. “É muito importante mostrar para as pessoas que na história do Brasil existem diversas mulheres negras que foram protagonistas, como Tereza de Benguela, Esperança Garcia, e muitas outras contemporâneas. Isso ajuda a inspirar meninas negras a acreditarem que também têm capacidade de conquistar espaços”, reflete.

Integrantes do movimento Mulheres do Piauí 

Ela finaliza com um apelo à sociedade. “O silêncio e a omissão também são formas de racismo. É preciso denunciar os casos, apoiar nossa luta, compreender nossa história que não é só de escravidão, mas também de resistência, avanços e liderança. A sociedade ajuda quando não se omite”, conclui. 

O Julho das Pretas segue até o fim do mês, levando às ruas e aos espaços públicos o orgulho, a luta e a resistência das mulheres negras do Piauí.

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