O retorno do X, antigo Twitter, ao Brasil, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), foi marcado por uma intensa disseminação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral do país. Um estudo conduzido pelo Instituto Democracia em Xeque revelou que, nas 48 horas seguintes ao desbloqueio da rede social, houve uma explosão de publicações que alegavam fraude eleitoral nas eleições municipais de São Paulo, informa Malu Gaspar, do jornal O Globo.
O levantamento apontou que mais de 32 mil postagens mencionavam urnas eletrônicas ou fraudes, uma quantidade significativa para um tema específico dentro de uma plataforma como o X. Segundo os pesquisadores, as postagens tinham como foco principal as alegações infundadas de que a eleição foi manipulada para prejudicar Pablo Marçal (PRTB), que não conseguiu avançar para o segundo turno, sendo ultrapassado por Guilherme Boulos (Psol) por uma margem de 56,8 mil votos na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Entre as principais narrativas falsas, destacaram-se: a de que o resultado das eleições foi fraudado para impedir a ascensão de Marçal; a de que as urnas eletrônicas são vulneráveis a fraudes e que o voto impresso seria necessário até 2026; e a alegação de que o horário da "virada" de Boulos sobre Marçal seria semelhante ao momento em que o presidente Lula (PT) ultrapassou Jair Bolsonaro (PL) na apuração do segundo turno de 2022. "Enquanto não for urna com voto impresso haverá fraudes", disse um dos usuários da plataforma em um post compartilhado amplamente.
O estudo também identificou que as desinformações sobre as urnas eletrônicas foram amplificadas pela plataforma de Elon Musk, enquanto redes como Instagram e Facebook, sob controle da Meta, demonstraram uma abordagem mais rígida em relação à moderação de conteúdos falsos. "O X serviu como palco para a mobilização de movimentos que reivindicam o voto impresso como sinônimo de segurança e transparência", afirmou Ana Júlia Bernardi, diretora de projetos do Instituto Democracia em Xeque
Bernardi ainda destacou que as alegações sobre fraude eleitoral, especialmente no contexto das urnas eletrônicas, se tratam de "reciclagem" de narrativas já vistas nas eleições de 2022. Uma dessas postagens mapeadas pelo instituto foi originalmente publicada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em 2020, mostrando um "modelo ideal" de urna eletrônica que imprimiria um comprovante de voto. Outra imagem, com as cores da bandeira do Brasil, exigia "voto impresso auditável", uma repetição de argumentos apresentados durante as eleições passadas.
Impacto da fake news no processo eleitoral
De acordo com os autores do estudo, o retorno do X apenas catalisou discussões que já estavam em andamento em outros espaços digitais. Durante o bloqueio da plataforma no Brasil, apoiadores de Marçal e grupos bolsonaristas continuaram a se mobilizar por meio de VPNs para acessar o X, além de utilizarem plataformas como o Discord para espalhar desinformação. Quando o X foi liberado, essas discussões migraram de volta para a rede social de Musk, que se mostrou mais permissiva com esse tipo de conteúdo.
O monitoramento do Instituto Democracia em Xeque mostrou que os ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro permanecem vivos e são regularmente "requentados", particularmente quando figuras como Alexandre de Moraes, ministro do STF, aparecem no centro das decisões judiciais.
A retomada do X no Brasil ocorreu após o cumprimento de ordens judiciais, que incluíram a nomeação de uma representante legal para a plataforma no país e o pagamento de multas. A decisão de liberar a plataforma foi do ministro Alexandre de Moraes, que vinha exigindo ações mais firmes contra a disseminação de fake news e ameaças a autoridades públicas.
Fonte: Brasil 247