Há cerca de duas semanas, escrevi sobre Petrônio Portella, lembrando seu centenário, em 12 de setembro deste ano, e sua importância política, sobretudo para a construção institucional do Estado brasileiro nos atuais tempos. Ocorre, porém, é que contemporâneo dele, outro grande personagem político do Piauí teve seu centenário transcorrido em setembro, no dia 7. Trata-se de Dirceu Mendes Arcoverde, médico e político cuja obra administrativa ainda hoje precisa ser vista por sua importância.
Já reportei o fato de apenas cinco dias separarem o nascimento desses dois grandes piauienses, no ano de 1925, tendo nascido Dirceu em Amarante, dia 7, e Petrônio Portella, em 12 de setembro do mesmo ano, em Valença. A distância temporal e física entre eles foi pequena, as carreiras profissionais diversas – um, médico, o outro, advogado. Porém, a política os fez trilhar caminhos próximos.
Dirceu foi secretário de Saúde do Piauí entre 1971 e 1974, quando foi eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa para ser o governador no quadriênio 1975-1979. E assim foi, tornando-se o sucessor de um gestor que se transformou em paradigma administrativo do Piauí, o ex-governador Alberto Silva (1918-2009) – o que, de certo modo, levou sua muito eficiente gestão ser eclipsada pelo imaginário que seu antecessor cuidadosamente construiu.
Hoje se poderia dizer que Dirceu Arcoverde era “low-profile”, ou seja, dono de uma personalidade discreta – o que nem de longe pode ser encarado como não ousado, na medida do que isso se possa ser feito, tampouco realizadora. Dirceu teve um olhar em infraestrutura que produziu menos imagens e mais benefícios, bastando citar que sob seu governo foram planejados e executadas grandes obras de habitação em todo o Piauí; ampliados serviços hospitalares e ambulatoriais e ampliadas então em todas as 114 cidades piauienses os serviços de abastecimento de água.
A memória das pessoas é sempre muito curta e sem dúvida serão bem poucos os que, quase 50 anos após o fim de seu governo e de sua morte prematura, em 1979, haverão de lembrar a importância de um governante médico, com forte tendência às práticas sanitárias e profiláticas, tenha focado sua ação de gestor político na oferta de água de qualidade ao maior número de pessoas. Para quem pensa em grandes obras de infraestrutura como estradas e linhas de energia elétrica, espalhar sistemas de abastecimento de água pode parecer pouco, mas os resultados em qualidade de vida certamente são bem maiores. Dirceu Arcoverde parecia ter felizmente essa percepção.
Diante disso, é adequado encarar como justa as homenagens que Dirceu Arcoverde recebeu após sua morte, quando iniciava mandato de senador pelo Piauí. Uma cidade criada após seu falecimento levou seu nome e sua maior obra habitacional, o conjunto residencial Itararé, também passou a ser conhecido por seu nome – o que foi algo tão naturalmente recebido que atualmente não há quem se refira pela denominação anterior daquele que é o maior bairro da capital do Piauí.
Podemos hoje fazer um daqueles exercícios de imaginação, compreendendo que se um governador do Piauí, sucedendo a outro, tivesse cuidado de imitar o antecessor, seria o que chamamos mais do mesmo. Dirceu foi guiado sem dúvida pela convicção de que a qualidade de vida das pessoas importa sempre muito mais. Fazer serviços de água, cuidar de criar uma melhor rede hospitalar e ambulatorial, construir casas melhores e fazer isso sem embargo de outras obras estruturantes estabelecem-no como um governante focado no bem-estar e no desenvolvimento futuros. É bom que as pessoas percebam isso, que notem a importância de agir com eficácia material sem nunca perder de vista a eficiência social, que deve ser marca de todo governante.
Álvaro Mota
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