Artigos & Opinião

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SOCIEDADE DA PERFOMANCE

Entre o dever e o espetáculo: vídeo de operação com tiros expõe era da performance

Imagens de uma operação com troca de tiros traz a reflexão sobre o papel de quem grava ação policial e a necessidade de exibir tudo

Malu Barreto

Quarta - 15/10/2025 às 17:04



Foto: Print do vídeo Vídeo flagra troca de tiros entre criminoso e policiais em Água Branca, no Piauí
Vídeo flagra troca de tiros entre criminoso e policiais em Água Branca, no Piauí

Muito cedo da manhã desta quarta-feira (15), os piauienses foram surpreendidos por uma sequência de vídeos de uma operação policial, que circularam rapidamente nas redes. Durante o cumprimento de um mandado, houve troca de tiros e um suspeito morreu. Nas imagens, vemos os policiais entrando em uma casa, e logo atrás deles, alguém filmando toda a ação, até o momento em que um disparo quase atinge um dos agentes. A pessoa que segura o aparelho celular se afasta dos tiros, numa tentativa de se "proteger" e pouco depois para de gravar.

A cena é tensa, real, perigosa. Ser da segurança pública é, sem dúvida, um trabalho de risco. Mas há um detalhe que inquieta: quem está por trás da câmera do celular que registra tudo? É um policial? Um profissional da comunicação? E, principalmente, qual é o papel dessa pessoa ali?

Vivemos tempos em que tudo precisa ser registrado e o acontecimento só parece existir se for visto, publicado, comentado. A lógica da “sociedade da performance” atravessa até os espaços onde a vida e a morte estão em jogo.

Não se trata de condenar o uso de câmeras. Pelo contrário, o uso de equipamentos acoplados às fardas dos policiais é um avanço importante em transparência e segurança, tanto para os agentes quanto para a população. Mas há uma diferença entre a câmera institucional, que documenta, e o celular que performa. Entre o registro que protege e a filmagem que busca audiência.

O que vemos é a linha cada vez mais tênue entre o dever e o espetáculo, entre o registro e o show. Uma sociedade que precisa exibir tudo corre o risco de perder o sentido do que realmente importa: o ato em si, o ser humano, o cuidado, o limite.

Talvez a pergunta mais urgente não seja “quem filmou”, mas “é necessário filmarmos tanto?”.

Redação

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