Olhe Direito!

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A água nossa de cada dia

Álvaro Fernando Mota

Terça - 09/09/2025 às 11:54



Foto: Arquivo pessoal O advogado Álvaro Mota
O advogado Álvaro Mota

 Há dados sobre água que, se lidos, podem nos causar apreensão e medo. Sabemos que a Terra é mais água que solo; que a água doce, ou seja, consumível por nós seres humanos, responde por 3% de toda a água existente no planeta e que desses 2,5%, estando a maior parte congelada nas calotas polares e geleiras. Menos de 1% estão disponíveis para uns 8 bilhões de humanos, animais domesticados e silvestres, plantas (e plantações).

Se a gente for olhar de perto, pesar e medir, vamos descobrir que existe água de menos para usos e consumos demais. Numa palavra bem direta, a escassez de água não é meramente questão de tempo, é questão de mau uso, de irracionalidade na utilização, de desperdício e de descaso com um recurso natural tão finito.

Números outros, esses ainda mais preocupantes, já sinalizam para dois aspectos que condenam populações a condições de vida cada vez piores ou, em alguns casos, para a condição de refugiados climáticos – realidade negada pelos que desacreditam nas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global.

Há cerca de duas semanas, a Organização das Nações Unidas divulgou um relatório em que expressa preocupação com a existente de 2 bilhões de pessoas sem acesso a água potável, a maioria delas na África, o que parece deixar essa realidade distante de nós, ao menos sob o aspecto físico. Porém, não é bem assim que a banda toca: a insegurança hídrica bate à porta de todos, em maior ou menor grau.

Vejamos o que se passa perto de nós: no Piauí, em julho deste ano, ao menos 170 municípios já estavam afetados por seca severa ou grave, resultante de pouca água acumulada no solo e subsolo, em razão de chuva escassa, perdas em lavouras e criações, redução drástica dos níveis de água nos mananciais de superfície e de subsolo.  Todo o semiárido enfrenta uma escassez de água crescente, porque a reposição de estoques hídricos não tem sido feita em razão de chuvas mais escassas e de uso maior para consumos doméstico e econômico.

Estamos diante de um problema global para o qual ainda não se chegou a soluções. A água congelada nas calotas polares, que é a maior parte da água doce, se derrete e aumenta a superfície dos Oceanos, ameaçando cidades costeiras. Até um país chamado Tuvalu vai desaparecer porque o mar vai inundar todas as suas terras, enquanto em muitos lugares do mundo a água que se amplia no mar falta em zonas mais quentes, tornando-as ainda mais áridas. É o caso do Semiárido do Nordeste.

O que fazer, se não temos poder de decisão global que nos salve de viver em temperaturas cada vez maiores, com umidade do ar cada vez menor e redução crescente de nossa capacidade de armazenar água em solo e subsolo? É difícil obter respostas prontas, mas localmente o governo brasileiro e entes subnacionais da região Nordeste – estados e municípios – precisam chegar a uma concertação sobre o que fazer para reduzir os impactos já bastante sentidos das alterações climáticas na região.

Fora o fato de que parte da umidade de que o Nordeste precisa vem a Amazônia e que a redução do desmatamento naquela região já concorreria bastante para melhorar resultados climáticos e meteorológicos na região, devemos lembrar que há uma parte nordestina no Cerrado e é preciso buscar sua conservação ´para garantir estoques hídricos em estados como o Piauí, Maranhão e Bahia.

Devemos lembrar que o Nordeste precisa conservar muito seu bioma principal, a Caatinga e que ao longo de sua vasta região semiárido estão rios, lagos e nascentes cuja preservação e conservação é fundamental para garantir que os estoques de água subterrâneas sejam mantenedores dos mananciais de superfície. Quanto mais se revitalizar bacias hidrográficas, nascentes e sistemas lacustres no Nordeste, garantindo ainda a infiltração de água no subsolo, mais equilíbrio se terá nos estoques hídricos como um todo.

Estou certo de que existem muitas pessoas, sobretudo os especialistas em geologia, hidrologia, engenharia de minas e outros profissionais atuantes na manutenção e conservação hídrica, que podem e devem ser cada vez mais ouvidos sobre esse tema tão fundamental em nossas vidas. Que sejam e que suas palavras sejam consideradas para termos chances de futuro mais saudável, com água boa para todos.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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