É o que eu acho

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É O QUE ACHO

Que o hálito do demônio nunca mais sopre

QUE O HÁLITO DO DEMÔNIO NUNCA MAIS SOPRE

Fernando Castilho

Terça - 19/07/2022 às 12:34



Foto: Divulgação Demônio
Demônio

Enigmas de um passado recente, hoje já se conhece muito acerca da existência dos astros denominados buracos negros, previstos por Albert Einstein.

Eles existem em vários tamanhos, mas o que é comum a todos eles é a enorme força gravitacional que atrai tudo para seu núcleo, inclusive a luz.

O astrofísico Stephen Hawking propôs que, embora nada escape de sua atração gravitacional os buracos negros podem emitir radiações. Essa teoria já foi confirmada por observações da Nasa.

A especulação que corre em nossos dias é se podem existir buracos negros muito pequenos cuja origem data da formação de nosso planeta e se encontram em seu interior.

Se isso for verdade, é possível que eles funcionem como portais para outras dimensões e, quem sabe, para outros lugares inimagináveis.

Um desses buracos, que se encontra justamente nas camadas profundas do magma sob a superfície de onde hoje se localiza a cidade de Brasília, logo após a construção da capital na década de 1950, começou um processo de atração gravitacional de gente com pretensões políticas e de poder.

Devido à agregação de massas ávidas por poder ao longo das décadas subsequentes, o buraco foi inflando até um ponto em que precisava expelir radiação, justamente a mais tóxica.

Foi em 2018 que a perigosa fenda do buraco negro sob Brasília se abriu. De lá de dentro, do Hades vermelho-sangue, uma radiação inicialmente amorfa e sem expressão começou a tomar forma e a rastejar de dentro daquele inferno.

O céu se tornara escuro como breu. Relâmpagos rasgavam a atmosfera densa iluminando brevemente a capital como a anunciar o mal que acabava de ser expelido.

Enfim, o processo de antropomorfismo se completara e a radiação se colocou sob duas pernas.

Multidões contemplavam e se agregavam ao novo ser que se apresentava como enviado de Deus e que sugeria que estava acima de todos os homens.

Um novo mito se apresentava como uma nova consubstanciação, desta vez, não do vinho e do pão, mas de uma nova ordem que corromperia a civilização, o meio-ambiente, as instituições, a democracia e a verdade.

Logo em seguida uma desgraça se abateu sobre os homens de todo o planeta. Um vírus poderoso que avançava matando impiedosamente muito mais pobres do que ricos.

O ser oriundo das profundezas do inferno aproveitou a oportunidade para impedir que a Ciência buscasse meios de combater a doença e salvar vidas. E contemplou satisfeito sua obra.

Mais de 600 mil almas pereceram sob a espada do mito infernal.

Como um Satã tresloucado, um Leviatã doidivanas, o ser emitiu radiações malignas para os cérebros de seus seguidores que não hesitaram em replicar suas maldades e em expor a si mesmos e às suas famílias às consequências de seus atos.

Assim foi que homens que haviam jurado seguir as leis e prender criminosos confinaram um inocente em uma viatura e o assassinaram por asfixia causada por gases tóxicos.

Assim é, também, que duas pessoas que lutavam pela preservação do meio-ambiente foram assassinadas por seguidores dessa nova seita.

O ser maligno se ocupava em emanar forças que causavam a desgraça do povo. Não demorou para a fome, o desemprego e a desesperança entrarem nos lares das famílias. Milhões perderam suas casas e foram morar nas ruas.

Felizmente a maior parte das pessoas se indignava e aguardava que forças do bem surgissem para combater o mal.

Contra a crueldade do mito dos infernos ergueu-se, enfim, uma voz que espalhava esperança, pregava a volta da civilização, da democracia e do bem-estar.

A reação contra essa voz não demorou a surgir.

Querubins do mal, cegos de ódio e possuídos pela vontade do mito, foram enviados para a batalha que iniciava.

Um deles, mesmo tendo esposa e filha de três meses, não hesitou em, em nome de seu mito, tentar matar um homem que se aliava às forças do bem no dia de seu aniversário. Sabia que, com certeza, no mínimo sairia preso e teria sua carreira arruinada, o que prejudicaria seriamente sua família. Mas, com seu cérebro dominado pelas ordens de seu superior, prosseguiu em seu intento.

Inesperadamente houve reação por parte da vítima, mas o querubim conseguiu cumprir sua missão, matando o homem, mesmo quase pagando com a própria vida por isso.

Como o caso causou muita repercussão, o ser maligno, viu-se desesperado por se ver perdendo uma das batalhas da guerra que travava contra as forças do bem.

Por onde passa ele murcha as flores, apodrece as carnes, polui o solo e os rios e corrompe as pessoas.

Foi essa característica que o fez procurar dois irmãos da vítima e corrompê-los. Os dois Cains já tinham sido há muito tempo influenciados pelos fluídos malignos que o mito exalava e, por isso, não cederam à corrupção. Decidiram trair seu irmão, um Abel, em nome do ser do mal.

A radiação do mal, consubstanciada em ser humano, agora se desespera em tentar convencer o povo que se chocou com o assassinato, de que a vítima foi a culpada por seu assassinato, mas não conseguirá.

A cada dia que passa o povo mais e mais se convence de que o demônio que entrou em nosso mundo por uma fenda do Hades não é um enviado de Deus e essa tragédia servirá para explicitar isso.

A guerra ainda vai levar muitos dias para acabar e virão ainda mais acontecimentos terríveis, mas as forças do bem a vencerão e o ser acabará por ser novamente atraído, engolido, triturado e, por fim, completamente incinerado pelas gigantescas forças gravitacionais que atuam no buraco negro do qual nunca deveria ter saído.

Após isso, a fenda se fechará, mas a semente do mal foi plantada e continuará ase espalhar feito erva daninha.

Será preciso que todos os cidadãos que amam a liberdade, a democracia, a civilização, a Ciência, a solidariedade, a justiça e a empatia se unam para extirpá-la.

Após isso, tempos virão em que voltaremos a ter esperança no futuro de nossos descendentes.

Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada
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