Após forte campanha da Confederação Nacional da Indústria (CNI) pela reeleição de Jair Bolsonaro, eis que a entidade, como não poderia deixar de ser, aceita o resultado das urnas e apresenta propostas ao novo governo Lula que se aproxima.
O documento Propostas da Indústria para um país mais forte elenca um conjunto harmônico de objetivos estratégicos de longo prazo, com propostas para subsidiar as ações dos primeiros 100 dias do próximo governo eleito, diante dos desafios do desenvolvimento industrial. A iniciativa leva em consideração as políticas industriais e os desempenhos das principais economias do mundo, que estão cada vez mais ativas ao estimular investimentos e assegurar competitividade global de seus produtos e suas tecnologias.
O setor industrial chegou a ser responsável por 48% do PIB brasileiro na década de 1980. A expansão do setor foi resultado da adoção de políticas públicas que incentivaram investimentos do governo e da iniciativa privada em setores estratégicos como energia, transportes, comunicação, siderurgia, mineração e petróleo. Essas políticas foram decisivas para o crescimento e a consolidação do parque industrial brasileiro que, atualmente, está entre os mais modernos e diversificados do mundo.
Mas, por que a indústria apoiou tanto o governo Bolsonaro?
O ministro da economia, Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, ainda no início do governo, deu o tom do que ele imagina para a política industrial do país. O Brasil, segundo ele, possui vocação agrícola, é um mero produtor e exportador de commodities, não possuindo qualquer vocação industrial.
A afirmação não causou a devida revolta que esperávamos. Ao contrário, nossos capitães das fábricas parece que se conformaram. Tanto é que viram seus números de produtividade e seus lucros baixarem sem nenhuma reação.
Só neste ano, no acumulado de 12 meses o setor apresenta percentual negativo de -2,8%!
O setor industrial está com desempenho 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 18% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, no primeiro governo Dilma que a CNI considera desastroso.
Vimos, durante o período Bolsonaro, indústrias importantes deixarem o país gerando milhares de desempregados.
Segundo a Central Única do Trabalhadores (CUT), inúmeras empresas como Ford, Sony, Roche, Eli Lily, Nike, Fnac, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, RR Donnelley, Lush Cosméticos e Kiehl’s se retiraram do Brasil, sem que uma única providência tenha sido tomada pelo governo brasileiro para tentar mantê-las. A Mercedes-Benz também fechou sua unidade de fabricação de automóveis leves.
É preciso lembrar que quando uma montadora do porte da Ford cessa suas atividades, toda uma cadeia de fornecedores é grandemente impactada, gerando milhares de desempregos.
Haveria, então, uma síndrome de Estocolmo?
Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas?
O governo de transição de Lula tem enfrentado grande resistência do mercado que exige responsabilidade fiscal e não se importa com milhões de pessoas passando fome no país.
São rentistas que sofrem calafrios toda vez que os índices da bolsa caem devido a alguma fala de Lula que não se encaixa em seus dogmas.
Mas, pergunto, quando a indústria cresce e a economia vai bem, a bolsa não sobe?
Será que se habituaram a índices sem nenhuma base, sem nenhum lastro? Números virtuais que não refletem crescimento econômico algum? Uma dança de números embasada em nada real?
A indústria, que nunca se preocupou em exigir de Guedes e Bolsonaro medidas que propiciassem seu crescimento, agora apresentam propostas a Lula.
É lógico que o presidente eleito, afeito à negociação e conciliação, não deixará de considerar as propostas, mas, desde cedo, é preciso que se sente à mesa com a CNI e lhe diga as verdades que precisam ser ditas.
Ocorre-me agora uma frase dita pelo então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Amato, lá pelos idos de 1989 quando Lula disputou pela primeira vez a presidência do Brasil: “se Lula for eleito, 800 mil empresários deixarão o país.” Isso ilustra muito bem o ranço histórico que parte do setor industrial tem contra o presidente eleito, apesar de auferir altos lucros nos oito anos de seu mandato.
Mas o governo está mudando, o país voltará a crescer a médio prazo e um ar fresco de esperança impregnará todos os brasileiros, mas é preciso que a indústria volte a reconhecer qual seu caminho e sua participação em nossa economia.
Mais uma vez, como nos outros dois governos Lula, essa gente encherá as burras de dinheiro, mas mesmo assim, continuará com seu eterno mimimi?