
O bruxismo, hábito de apertar ou ranger os dentes de forma involuntária, afeta cada vez mais pessoas e, em muitos casos, passa despercebido. O assunto foi o tema do Podcast Piauí Hoje, quando a jornalista Malu Barreto entrevistou a dentista Carine Borges, especialista em disfunção temporomandibular (DTM).
“O bruxismo é uma atividade exacerbada da musculatura da face, principalmente do músculo mastigatório, que provoca incômodos e distúrbios. O paciente muitas vezes sente dor de cabeça, fadiga na mandíbula, dor no pescoço e até zumbido no ouvido, mas não associa ao bruxismo”.
Ela destaca que o problema não está ligado apenas ao estresse. “Hoje a gente sabe que pode ter relação com várias condições sistêmicas, como refluxo, gastrite, distúrbios do sono e também com uso de certas medicações. Estudos recentes mostram que remédios para controle de ansiedade e TDAH, como Venvanse e Ritalina, e até medicamentos para emagrecimento, podem aumentar a atividade muscular e piorar o bruxismo”, afirma.
Segundo Carine, é comum que pacientes se automediquem ou associem diferentes remédios sem acompanhamento médico, potencializando o problema. “Às vezes, a pessoa não volta ao médico para relatar os sintomas, e o uso prolongado ou em dose errada pode acelerar essa atividade muscular.”
O bruxismo pode ocorrer durante o dia ou à noite. “No bruxismo do sono, muitas vezes quem percebe é o parceiro, por conta do ranger dos dentes. Mas acordar com dor de cabeça ou dor na face não é normal”, alerta a especialista, lembrando que crianças também podem apresentar o quadro. “Hoje a gente vê muito em crianças com hábitos parafuncionais, ansiedade e problemas respiratórios.”
O diagnóstico deve ser feito por dentista especializado, mas o tratamento é multiprofissional, envolvendo, conforme o caso, ortodontistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e médicos. “Cada paciente é um caso, e nem sempre o que serve para um vai servir para o outro. Temos placas para bruxismo, placas para ronco e apneia, aparelhos para crianças, exercícios.Tudo depende da origem do problema”, diz.
Carine também faz um alerta sobre soluções rápidas. “O botox tem indicação em casos muito específicos, mas não resolve a causa central na maioria das vezes. E pode até trazer efeitos colaterais, como enfraquecer a musculatura e causar problemas na articulação. Sempre que possível, o ideal é começar pelo tratamento mais conservador.”
Para a dentista, a pandemia aumentou os casos. “As pessoas dormiam mal, se alimentavam mal, estavam mais ansiosas e com a vida virada de cabeça para baixo. Isso afetou diretamente a qualidade de vida e fez muita gente desenvolver ou agravar o bruxismo. Sem tratamento, ele pode evoluir, causar mais dor e até desgaste nos dentes”, esclarece.
Assista à entrevista completa: