
O sistema ABO foi descoberto no início do século XX, pelo biólogo austríaco Karl Landsteiner e até hoje é usado em todo o mundo para classificação sanguínea. Mas ele não é o único sistema utilizado para classificar o sangue. Segundo a Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT) existem, atualmente, 47 sistemas que descrevem mais de 360 antígenos diferentes e esse número não é definitivo. Entre os antígenos já conhecidos, alguns são extremamente raros.
Recentemente, um paciente internado no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) que passou por uma amputação de membros, precisou de transfusão de sangue. O protocolo exige que junto com a solicitação de transfusão seja enviada uma amostra para a realização de exames que comprovem o tipo sanguíneo do paciente, chamado de identificação de anticorpos e prova de compatibilidade com outros soros raros. E foi no momento da análise da amostra que a equipe do Laboratório de Imuno-Hematologia do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí (Hemopi) percebeu que o tipo sanguíneo do paciente tinha uma especificidade e poderia ser raro.
“O paciente possui um anticorpo raríssimo, conhecido como Anti-Gerbich 2, que é mais incidente na população que habita a região da Oceania, entre o extremo oeste do Oceano Pacífico e o nordeste da Austrália. A frequência de encontrar um doador é de 0.01 a 1% na população geral”, explica o supervisor do laboratório, Pedro Afonso Sousa.
O Hemopi possui um Laboratório de Fenotipagem que ajuda a encontrar tanto doadores quanto receptores com fenótipos raros. Inaugurado em 2011, o Laboratório conta atualmente com cerca de seis mil doadores cadastrados.
Pedro Afonso Sousa conta que foram realizadas duas doações para o paciente. “Ao detectar o fenótipo raro fomos em busca de doadores compatíveis em nosso banco de dados. Achamos sete doadores tipo Gerbich 2 negativo, mas somente dois conseguiram efetivar a doação, sendo um de Teresina e outro da cidade de Miguel Alves. A pesquisa de doadores raros é uma prática pouco realizada no país e o Hemopi é um dos hemocentros que possui esse serviço de fenotipagem. Nosso objetivo é encontrar essas raridades e garantir a segurança transfusional. É um trabalho minucioso que ajuda a salvar pacientes dentro e fora do estado”, explica o supervisor.
Fenotipagem é uma técnica de imunohematologia utilizada para identificar a presença ou ausência de determinado sistema de grupo sanguíneo. “Aqui no Hemopi a fenotipagem é feita em um percentual de doadores de sangue, em torno de 10% do total mensal, e em alguns pacientes com patologia específica”, esclarece Pedro Afonso Sousa.
Fonte: CCOM-PI