
Demorar a falar não é fase nem preguiça. É sinal de que algo pode precisar de atenção. Bebês costumam vocalizar vogais por volta dos seis meses, balbuciar sílabas próximas aos oito meses e soltar as primeiras palavras ao redor de um ano. Quando esses marcos não aparecem, param de evoluir ou regridem, a recomendação é procurar logo um especialista. É o que orienta a fonoaudióloga Manuela Lucchesi, que concedeu entrevista ao Podcast Mulher Mais, no Portal Piauí Hoje.
“A intervenção precoce, muitas vezes iniciada ainda no primeiro ano de vida, costuma evitar que a dificuldade se transforme em problemas maiores, como gagueira persistente, seletividade alimentar ou atraso associado ao transtorno do espectro autista (TEA)”, explica. Manuela.
Ela ressalta que nem sempre a causa é clínica. Hábitos corriqueiros podem atrapalhar bastante. “A exposição precoce a telas hipnotiza a criança: luz, cor e movimento reduzem a interação com quem está por perto, empobrecendo o vocabulário e a troca afetiva. Por isso, sociedades médicas sugerem zero celular até pelo menos três anos e uso muito moderado depois disso”.
Outro vilão silencioso é o uso prolongado de chupeta, mamadeira ou o hábito de chupar dedo. Especialista afiram que esses objetos alteram a musculatura da boca, favorecem respiração bucal, abrem espaço entre os dentes e, com o tempo, distorcem a pronúncia de vários sons. Se for preciso recorrer a bicos por questões como refluxo, a retirada deve acontecer assim que o pediatra autorizar e, se necessário, com orientação fonoaudiológica para transição suave.
A boa notícia é que pequenas mudanças em casa fazem grande diferença. Manuela orienta os pais sobre que o fazer. “Temos exercícios simples que melhoram a fala, como separar pelo menos dez minutos por dia para brincar sem telas, narrar as atividades cotidianas usando frases afirmativas, interrogativas e exclamativas, comentar cores e texturas dos alimentos nas refeições e ler livros apontando figuras. Nessas horas, vale exagerar na articulação e repetir palavras novas para a criança internalizar”, ensina.
Em resumo, a fonoaudióloga explica que a linguagem se constrói na troca direta. “Mesmo em um mundo de aplicativos e vídeos, falar olhando nos olhos continua sendo o melhor estímulo e o primeiro passo para garantir que cada criança se comunique com clareza, confiança e saúde”, garante.