
Finalmente, a velha mídia sai em defesa do Brasil por causa das ameaças absurdas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o governo brasileiro. Veículos como Estadão, Folha de S.Paulo e até O Globo começaram a criticar Trump, o líder autoritário que governa os EUA como se o país — que tem a maior economia do mundo — fosse uma pequena loja dele.
O posicionamento mais firme da mídia tradicional brasileira contra as ameaças de Trump à soberania nacional partiu do jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, em um duro editorial publicado na noite de quarta-feira (09/07). No texto, intitulado "Coisa de mafiosos", o Estadão chama Trump de autoritário e troglodita. O editorial afirma que a reação do presidente Lula às ameaças de Trump foi correta e firme.
O Estadão também condena o apoio dos Bolsonaro (Jair e Eduardo) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL), às medidas anunciadas pelo presidente norte-americano contra o Brasil.
"Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o MAGA (Make America Great Again), e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro", destaca o editorial do Estadão.
Mas a reação da velha mídia não foi espontânea. Ela foi pressionada pelo posicionamento firme de milhões de brasileiros em defesa da soberania do Brasil. As críticas a Trump, devido à carta enviada a Lula — na qual ele ameaça impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA —, partiram de importantes lideranças de todas as regiões e setores do país.
Ao final, o editorial do Estadão é incisivo ao defender "que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia".
A seguir, o editorial do Estadão na íntegra:
"Coisa de mafiosos
Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha a democracia.
O ex-presidente americano Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva informando que pretende impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Da confusão de exclamações, frases desconexas e argumentos esquizofrênicos na mensagem, depreende-se que Trump decidiu castigar o Brasil em razão dos processos movidos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e também por causa de ações do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas que administram redes sociais — tidas pelo STF como abrigos de golpistas. Trump, ademais, alega que o Brasil tem superávit comercial com os EUA e, portanto, prejudica os interesses americanos.
Não há outra conclusão a tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos. Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o país a se render a suas exigências absurdas.
Antes de mais nada, os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil. Ou seja, Trump mentiu descaradamente na carta para justificar a medida drástica. Além disso, Trump pretende interferir diretamente nas decisões do Judiciário brasileiro, sobre o qual o governo federal — destinatário das ameaças — não tem nenhum poder. Talvez o ex-presidente dos EUA, que foi bem-sucedido no desmonte dos freios e contrapesos da república americana, imagine que no Brasil o presidente também possa fazer o que bem entender em relação a processos judiciais.
Ao exigir que o governo brasileiro atue para interromper as ações contra Jair Bolsonaro, usando para isso a ameaça de retaliações comerciais gravíssimas, Trump intromete-se de forma ultrajante em assuntos internos do Brasil. É verdade que Trump não tem o menor respeito pelas liturgias e rituais das relações entre Estados, mas, mesmo para seus padrões, a carta endereçada ao governo brasileiro ultrapassou todos os limites.
A reação inicial de Lula foi correta. Em postagem nas redes sociais, o presidente lembrou que o Brasil é um país soberano, que os Poderes são independentes e que os processos contra os golpistas são de inteira responsabilidade do Judiciário. E, também corretamente, informou que qualquer elevação de tarifa por parte dos EUA será seguida de medidas equivalentes por parte do Brasil, conforme o princípio da reciprocidade.
Esse episódio chocante serve para demonstrar, como se ainda houvesse alguma dúvida, o caráter absolutamente daninho do trumpismo e, por tabela, do bolsonarismo. Para esses movimentos, os interesses dos EUA e do Brasil são confundidos com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro. Não se trata de "América em primeiro lugar" nem de "Brasil acima de tudo", e sim dos caprichos e ambições pessoais desses irresponsáveis.
Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o MAGA (Make America Great Again), e cumprimentou o ex-presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro.
Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira. Caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos fascinados pelo ex-presidente americano terão dificuldade para se explicar aos setores produtivos afetados.
Eis aí o mal que um irresponsável como Bolsonaro causa ao Brasil, com a ajuda de todos os que lhe dão sustentação política na esperança de herdar seu patrimônio eleitoral. Pode até ser que Trump não leve adiante suas ameaças, como tem feito com outros países, e que tudo não passe de mais uma encenação, como lhe é característico. Mas o caso serve para confirmar a natureza destrutiva desses inimigos da democracia.
Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um ex-presidente americano que envergonha os ideais da democracia."
