
Está explicado o porquê a deputada federal Amanda Gentil (PP-MA) se empenhou e foi uma das vozes mais ativas pela aprovação da "PEC da Blindagem" na Câmara: interesses pessoais. Há um mês, o pai, a madrasta e um primo foram alvos da Polícia Federal por supostos desvios em Caxias (MA), durante a Operação Lei do Retorno que apura esquema que desviou verba da educação básica.
Em um movimento que mistura interesse político e laços familiares, a deputada federal Amanda Gentil emergiu como uma das defensoras da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 5/2023, conhecida como "PEC da Blindagem", aprovada pela Câmara dos Deputados e enviada ao Senado. A proposta, que dificulta a investigação e punição de investigados e condenados, é vista por críticos como um mecanismo de impunidade para autoridades, principalmente políticos.
A atuação da parlamentar maranhense, no entanto, é encarada com suspeita diante de um cenário familiar conturbado. Há exatamente um mês, a Polícia Federal (PF) deflagrou a segunda fase da Operação Lei do Retorno, justamente em Caxias (MA), cidade natal da deputada, para investigar um esquema de desvio de mais de R$ 50 milhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Entre os principais investigados na operação estão parentes diretos de Amanda Gentil: seu pai, Fábio Gentil, que foi prefeito de Caxias por dois mandatos e é atual secretário de Agricultura do Maranhão; sua madrasta, a deputada estadual Daniella Tema (PSB), esposa de Fábio; e seu primo, o prefeito atual de Caxias, Gentil Neto (PP).
De acordo com a PF, eles são suspeitos de integrar uma organização criminosa que fraudava licitações e recebia propina, desviando recursos destinados à remuneração de professores, transporte, alimentação escolar e manutenção de escolas.
A conexão entre a defesa da PEC e as investigações contra sua família não passou despercebida. Analistas apontam que a aprovação da "PEC da Blindagem" poderia beneficiar diretamente os investigados de Caxias, dificultando ou mesmo impedindo a apreensão de bens adquiridos com os supostos recursos desviados, que totalizam milhões, enquanto o processo judicial tramita – o que pode levar anos.
O lado imoral da proposta é amplamente criticado, pois beneficia uma elite política e econômica investigada por crimes contra o erário, enquanto a população de Caxias sofre com a precarização dos serviços de educação. A maioria dos deputados que aprovaram a PEC é alvo de investigações similares ou possui aliados nessa situação, configurando um claro conflito de interesses e um uso da máquina legislativa em causa própria.
Deputada estadual Daniella Tema e o esposo Fábio Gentil - investigados na Operação Retorno da Polícia Federal - pai e madrasta da deputada federal Amanda Gentil
A investigação da PF apura crimes de organização criminosa, corrupção, peculato (desvio de verba pública), fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Até o momento, já foram apreendidos mais de R$ 2,5 milhões em valores e bens. Parte dos recursos desviados, segundo as apurações, chegou ao município através de emendas de relator do orçamento secreto alocadas pela própria deputada Amanda Gentil.
A defesa ferrenha da "PEC da Blindagem" pela deputada do Maranhão, portanto, é interpretada como uma manobra para criar um escudo jurídico para sua família, blindando-os das consequências dos crimes dos quais são acusados, em um caso que expõe as entranhas de um sistema político operado em benefício de grupos particulares.