
Em artigo publicado nesse domingo (14) no jornal norte-americano The New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a decisão do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. No texto, intitulado “Democracia e Soberania Brasileiras São Inegociáveis”, Lula defende o multilateralismo como caminho mais justo para a resolução de conflitos comerciais e afirma que as ações da Casa Branca têm motivações políticas.
“Decidi escrever este ensaio para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos”, escreveu Lula logo no início do artigo.
O presidente brasileiro destacou que, ao contrário do que a medida tarifária sugere, os EUA mantêm um superávit comercial expressivo com o Brasil, somando US$ 410 bilhões nos últimos 15 anos. Ele também ressaltou que 75% das exportações americanas para o Brasil são isentas de tarifas e que a taxa média de impostos sobre produtos dos EUA é de apenas 2,7%.
“O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico”, afirmou.
Defesa da soberania e crítica à motivação política
Segundo Lula, a ausência de justificativas econômicas reforça que a decisão americana tem natureza política. Ele aponta que a nova política comercial é uma forma de pressão para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 2023.
“O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa fracassada de golpe”, afirmou o presidente.
Lula aproveitou para elogiar a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou essencial para a defesa da democracia e o cumprimento da Constituição de 1988. Segundo ele, a recente decisão da Corte que confirmou a condenação de Bolsonaro "não foi uma caça às bruxas", mas resultado de investigações legais que revelaram planos de assassinato contra autoridades e tentativa de anulação do resultado eleitoral de 2022.
Big techs, PIX e meio ambiente
O artigo também rebate críticas do governo Trump sobre a regulação de plataformas digitais no Brasil. Lula defendeu a atuação do país em prol da segurança digital, combate à desinformação e proteção de crianças e adolescentes.
“É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio”, escreveu.
O presidente também defendeu o PIX, sistema de pagamentos digitais desenvolvido pelo Banco Central, afirmando que o modelo promoveu inclusão financeira e dinamizou a economia. “Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações”, pontuou.
Sobre a Amazônia, Lula ressaltou que a taxa de desmatamento caiu pela metade nos últimos dois anos e que milhões de dólares usados em crimes ambientais foram apreendidos. Ele advertiu, no entanto, que o bioma segue ameaçado pelo aquecimento global e cobrou responsabilidade compartilhada na redução de emissões de gases do efeito estufa.
Apelo ao diálogo, com limites claros
Encerrando o artigo, Lula reiterou a disposição do Brasil em manter canais de diálogo com os Estados Unidos, mesmo diante das diferenças ideológicas entre os governos.
“Continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, declarou.
Ele também resgatou uma fala de Trump na ONU em 2017, quando o presidente americano afirmou que “nações fortes e soberanas permitem que países diversos (...) trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo”.
“É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos”, concluiu Lula.
Fonte: GOV.BR