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CANNABIS MEDICINAL

Cannabis medicinal é uma ferramenta terapêutica essencial, diz especialista

A enfermeira Jamila Rocha falou sobre os mito e avanços científicos relacionados ao uso terapêutico da planta no podcast Conexão Cultura

Da Redação

Segunda - 02/06/2025 às 19:00



Foto: Piauí Hoje Gilson Caland e a entrevistada Jamila Rocha, no primeiro episódio do Conexão Cultura
Gilson Caland e a entrevistada Jamila Rocha, no primeiro episódio do Conexão Cultura

O podcast Conexão Cultura estreia às 19h desta segunda-feira, (2), no portal Piauí Hoje, sob o comando do professor Gilson Caland, trará temas variados sobre literatura, arte, história, política e saúde. Neste primeiro episódio, a entrevistada é a enfermeira Jamila Rocha, especialista em cannabis medicinal. Ela abordou os mitos, a história e os avanços científicos relacionados ao uso terapêutico da planta. 

Jamila também é presidente da Associação Bcy, que trabalha com produtos terapêuticos a partir da cannabis. Durante o bate-papo, Jamila destacou a importância de compreender o contexto histórico por trás da proibição da cannabis e lembrou que no Brasil, essa proibição, se deu devido a um conflito de interesse entre as indústrias nos Estados Unidos.

"O Brasil ainda é um copia e cola dos Estados Unidos, do que dá certo e do que dá errado. Então quando essa política de drogas chegou no Brasil foi um espelho dos Estados Unidos dessa demonização relacionada com dados".

A enfermeira ressalta que a cannabis é igual a qualquer outra planta medicinal que é amplamente utilizada na indústria farmacêutica. Segundo ela, a planta possui mais de 140 fitocanabinoides – substâncias com propriedades farmacológicas – e cerca de 500 componentes químicos. 

“Hoje, quando você pega a Farmacopeia Brasileira, tem vários medicamentos feitos de plantas e está tudo bem. Por que com a cannabis é diferente?”, questiona. 

Jamila Rocha também explica que, embora a cannabis contenha centenas de princípios ativos, a ciência atual tem se debruçado principalmente sobre dez deles. Os mais estudados são o CBD (canabidiol), o THC (delta-9-tetrahidrocanabinol), o CBC (canabicromeno), o CBG (canabigerol) e o CBN (canabinol). Esses compostos têm mostrado resultados promissores no tratamento de diversas enfermidades. 

A conversa com Jamila é uma oportunidade para entender melhor o uso legal e seguro da cannabis no contexto medicinal e para refletir sobre os preconceitos que ainda cercam o tema. 

Ela reforça a importância da personalização no tratamento com a cannabis. Janila explica que não existe uma fórmula única e que muitos pacientes precisam de blends específicos — combinações de diferentes canabinoides — para atingir os efeitos terapêuticos desejados. No entanto, o tratamento é individual e com acompanhamento profissional. 

“Cada paciente é individualizado, cada paciente tem uma necessidade específica”. 

REGULAMENTAÇÃO 

Jamila também comentou as diferentes formas de regulamentação da cannabis ao redor do mundo, destacando os Estados Unidos, onde o CBD é legal em nível federal e vendido como suplemento.  

“Lá você encontra produtos com CBD em lojas de conveniência e até em postos de gasolina”, disse.  

No Brasil, a realidade ainda é bem diferente. Embora existam leis estaduais e municipais — como a Lei 8.085/2023 no Piauí e a Lei 5.916/2023 em Teresina — que tratam da regulamentação da cannabis medicinal, o acesso continua limitado

Jamila ressalta a importância de conhecer essas legislações e alerta para a necessidade de acompanhamento médico qualificado, destacando o papel de equipes multidisciplinares no tratamento. 

CANNABIS NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS E DOENÇAS   

A enfermeira destacou que o uso terapêutico da cannabis já é consolidado em diversas condições, como autismo, Alzheimer, AVC, epilepsia, fibromialgia, endometriose, dores crônicas, transtornos neurológicos e até questões dermatológicas. Em países como Israel, por exemplo, a cannabis é usada como primeira opção no tratamento do autismo — diferente do Brasil, onde muitas vezes só é considerada como último recurso. 

Jamila também compartilhou sua história pessoal, que começou com o tratamento do sobrinho autista. Ele apresentava efeitos adversos severos aos medicamentos convencionais. 

A busca por alternativas levou Jamila a aprofundar seus estudos e se tornar uma das primeiras profissionais a concluir uma pós-graduação em cannabis medicinal validada pelo MEC no Brasil. Hoje, ela acompanha mais de 280 pacientes no Piauí, dentro de associações como a Bcy.

 “Esses pacientes são acompanhados com laudos médicos, receitas. Documentação e uma equipe especializada que monitora toda a evolução clínica”, relata. 

Segundo Jamila, o acesso à cannabis medicinal no Brasil pode se dar por três caminhos principais: via importação autorizada pela Anvisa, através de farmácias convencionais (embora a preços elevados), ou por meio de associações legalizadas. A importação, apesar de burocrática, é viável e não sofre taxações.

 Já os produtos vendidos em farmácias, além do alto custo, são fabricados com insumos importados — o que, para a enfermeira, representa uma oportunidade perdida para o agronegócio e a indústria brasileira. 

Por fim, Jamila lembra que, atualmente, médicos, dentistas e veterinários estão autorizados pela Anvisa a prescrever cannabis medicinal, conforme previsto na RDC nº 327, mas é fundamental que esses profissionais tenham conhecimento técnico sobre os canabinoides e saibam aplicá-los de maneira eficaz e segura.

Assista à entrevista completa: 


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