
A Assembleia Legislativa do Piauí fez ontem, 28 de maio, sessão solene para celebrar os 100 anos de nascimento do parlamentar que por mais tempo ocupou uma cadeira na Casa, Humberto Reis da Silveira – que por 55 anos, entre 1947 e 2002 exerceu mandatos de deputado estadual, o que lhe valeu até o reconhecimento internacional como recordista de mandatos parlamentares.
A homenagem não poderia ser mais justa, considerando que o deputado Humberto Reis assistiu em 55 anos e no decorrer da segunda metade do século XX à história se passar como um privilegiado espectador, no exercício do mister político.
Nos 55 anos em que esteve na Assembleia Legislativa, 23 homens ocuparam a cadeira de governador; 19 passaram pela Presidência da República; um presidente se suicidou, um ousou mudar a capital do país; outro renunciou ao mandato e o sucessor foi deposto. Legislações eleitorais mudaram uma dezena de vezes e ele seguiu fazendo o simples, que era obter a confiança de seus eleitores em um tempo no qual valia mais uma boa conversa.
Humberto era tido como homem sábio por seus pares e contemporâneos. Mas mais do que ser tido como sábio, de fato era uma pessoa que ao saber medir e pesar palavras, gestos e ações, trilhava caminhos de bom senso. Ouvia mais que falava, a despeito de sua conhecida condição de mouco, mas não para filtrar palavras e expressões, tirando delas o melhor, a sabedoria, a capacidade de analisar conjunturas e projetar cenários.
No percurso de 55 anos como deputado estadual, Humberto Reis participou da elaboração de quatro textos de Constituições para o Estado do Piauí. Essa é uma condição que certamente nenhum outro integrante daquela Casa, em qualquer tempo, teve e sem dúvida nunca, doravante, terá – o que faz dele um homem único também por sua atividade legislativa.
Em 1947, na sua chegada à Assembleia Legislativa, já foi constituinte no processo de redemocratização, sendo um dos signatários da Constituição Estadual promulgada naquele ano em meio a disputas políticas tão intensas que 15 dos constituintes se recusaram a assinar a Carta, conforme registram os estimados professores José Eduardo Pereira e Fides Angélica de Castro Veloso Mendes Omatti em seu fundamental livro “As constituições piauienses”, de 1988.
Em duas outras ocasiões, com o país sob regime de exceção, em 1967 e 1969, a Assembleia Legislativa precisou adaptar o texto constitucional do estado à realidade institucionalizada pelo regime autoritário instalado em Brasília. Como deputado estadual, Humberto Reis teve que ser signatário dessas alterações, postas abaixo em 1989, por uma nova Constituição do Estado do Piauí.
É imperativo dizer que em 1989, 42 anos após assumir pela primeira vez o mandato de deputado estadual, Humberto Reis da Silveira ocupou o cargo mais importante da Assembleia Constituinte do Piauí após o de presidente, muito bem exercido pelo então deputado estadual Kléber Eulálio. Ele foi escolhido por seus pares como relator geral da Carta e, nessa condição, conduziu os trabalhos com muito zelo, competência e bom senso, reduzindo conflitos, permitindo que as demandas fossem negociadas e que a carta refletisse o melhor de cada um dos seus redatores e de contribuições advindas da sociedade.
Esse homem que trabalhou uma vida inteira no âmbito do Legislativo do Piauí, morreu como viveu, modestamente, sem qualquer sinal de opulência, a não ser a riqueza de uma biografia irretocável e que legou às gerações o sentido amplo do que é ser um homem público, de mais servir que se servir.
