
O 3º Seminário Nacional da Mulher Economista e Diversidade, organizado pelo Sistema Cofecon/Corecons e sediado pelo Corecon-BA em Salvador, resultou na divulgação da Carta de Salvador, documento que emerge das reflexões coletivas de economistas, pesquisadoras e representantes de entidades públicas, privadas e da sociedade civil sobre a urgência de combater a violência de gênero e desigualdades estruturais como requisitos básicos para o desenvolvimento econômico e social do país.
O seminário aprofundou debates sobre como a violência de gênero afeta o PIB, o mercado de trabalho e a vida acadêmica das mulheres. Foram discutidas saídas como empregabilidade e empreendedorismo como formas de superação. Também destacou o painel sobre o movimento das mulheres economistas no Brasil, com um balanço de avanços e desafios enfrentados ao longo das últimas décadas.
Entre 2013 e 2023, 47.463 mulheres foram assassinadas, com 3.603 casos apenas em 2023, o que representa uma taxa de 3,5 mortes por 100 mil habitantes, sendo as mulheres negras 70% mais vulneráveis.
A Pesquisa de Vitimização de 2025 indicou que 37,5% das mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano, com a violência psicológica como a mais comum. A feminização da pobreza também é alarmante. Os dados revelam ainda que 32% das mulheres vivem em situação de pobreza, percentuais que chegam a 45% entre mulheres negras, contra 21% entre mulheres brancas.
O seminário adotou como referência a Economia Feminista, que integra categorias como raça, classe e gênero para entender a violência em múltiplas dimensões, doméstica, laboral, institucional, política, digital e social.
A invisibilidade da economia do cuidado nas contas nacionais também foi criticada, assim como as barreiras enfrentadas por mulheres em carreiras nas áreas de STEM, economia, liderança e empreendedorismo.
Outro ponto destacado foi a distribuição desigual das tarefas domésticas: as mulheres dedicam, em média, 23 horas semanais a cuidados e afazeres domésticos, contra 11 horas dos homens. Essa disparidade compromete sua participação plena no mercado de trabalho e na política, impactando o desenvolvimento macroeconômico por meio de perda de talentos, retração de consumo e redução da arrecadação pública
Compromissos assumidos na Carta de Salvador
No documento, os participantes estabeleceram seis compromissos centrais:
- Reconhecer a violência de gênero como entrave ao desenvolvimento, ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e à democracia efetiva;
- Defender políticas de cuidado com orçamento adequado, como o Plano Nacional de Cuidados e a Lei da Igualdade Salarial e Laboral;
- Garantir crédito justo e inclusivo às mulheres empreendedoras, eliminando discriminações que resultam em juros mais altos;
- Valorizar e contabilizar o trabalho de cuidado não remunerado na economia brasileira;
- Promover a participação feminina em espaços de decisão política, acadêmica e econômica, com paridade efetiva;
- Fortalecer as Comissões de Mulheres Economistas no Sistema Cofecon/Corecons, ampliando redes de apoio e articulação nacional.
A Carta de Salvador conclui que não existe desenvolvimento econômico sustentável enquanto a violência e a desigualdade de gênero persistirem. E enfatiza que, além das mulheres, homens e pessoas de todos os gêneros precisam se engajar, junto ao setor público, para transformar indignação em políticas públicas e investimento em igualdade
"É urgente transformar a indignação em políticas públicas, o diagnóstico em ação e os custos da violência em investimento e igualdade".
Fonte: Cofecon