
O longa-metragem "A Cigana", coproduzido pelo roteirista e escritor piauiense Ítalo Damasceno, acaba de vencer o prêmio do Júri Oficial no Festival Rio LGBTQIA+, destacando-se entre produções de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Dirigido por Tiago Santana, o documentário de 75 minutos narra a trajetória do músico Benício, natural do povoado Poção (PI), explorando identidade, resistência e afetos na cultura local.
Com recursos da Lei Paulo Gustavo e apoio do Sesc, o filme já tem nova exibição confirmada no tradicional Festival Guarnicê de Cinema, em São Luís (MA), no fim de agosto. A equipe busca parcerias para levar sessões acessíveis a escolas públicas e ao interior do Piauí. "Levar cinema local para a sala de aula faz nascer novos realizadores e públicos", defendeu Damasceno durante o Simbora Cast, podcast comandado pelo professor Wellington Soares no estúdio do Portal Piauí Hoje.
Enquanto celebra o sucesso audiovisual, Ítalo Damasceno conta que prepara novidades para sua tetralogia literária “O Falso Francês”, série que mistura romance histórico e humor, ambientada no Brasil do século XIX. Até o fim de 2025, o autor deve lançar dois projetos: a edição bilíngue (português-inglês) do primeiro livro, viabilizada pelo edital Aldir Blanc, a adaptação em quadrinhos, com arte de ilustradores piauienses e projeto gráfico premiado.
Um dos desafios do roteirista é captar R$ 10 mil para produzir audiodescrição da HQ, tornando-a acessível a pessoas com deficiência visual. "Descobrimos que quadrinhos podem ter trilha narrada. Queremos incluir todo mundo", explica o autor, que planeja um QR Code na publicação para acionar o recurso.
Da Bienal ao corpo a corpo: a trajetória de um autor independente
Na entrevista, Ítalo Damasceno compartilhou os bastidores de sua carreira literária. A inspiração para “O Falso Francês” veio de sua paixão pelos folhetins do século XIX e de uma crítica à desvalorização que autores brasileiros sofriam na época. A obra acompanha João Manuel, um jovem escritor que, para conseguir publicar seu trabalho, finge estar traduzindo um texto francês, uma estratégia que revela as dificuldades dos criadores nacionais em um período em que o prestígio literário vinha da Europa.
O caminho até as livrarias foi marcado pela independência: lançado inicialmente como e-book em 2020, durante a pandemia, o livro só ganhou sua edição física através de um edital cultural. Hoje, integra o acervo de livrarias como a Entre Livros, em Teresina, mas Damasceno mantém o hábito de vender pessoalmente seus exemplares. "Faço como um camelô, autografando e conversando com os leitores. Essa conexão direta é fundamental", explica o autor, que encontrou nessa abordagem uma forma de conquistar novos públicos.
Atualmente, Damasceno trabalha no terceiro volume da tetralogia, um romance policial escrito no formato clássico dos folhetins, enquanto planeja o quarto e último livro, que trará uma trama inspirada no clássico conflito entre irmãos gêmeos, à maneira de “Esaú e Jacó”.
Essa dedicação à literatura não o afasta, porém, de outros compromissos culturais. Ele prepara sua participação na Feira da Literatura Piauiense (FLIP), em setembro, onde ministrará minicursos de roteiro, e continua com o projeto Cinema na Escola, realizando oficinas em colégios públicos ao lado do cineasta Cícero Filho. "Acredito que a leitura é, antes de tudo, um prazer. E é com trabalho direto, afetivo, que podemos reverter essa queda no número de leitores", reflete Damasceno.
Fonte: Ascom