
Na data em que o Brasil completou 203 anos de independência, cerca de duas mil famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) deram início a uma grande jornada de ocupações em 15 estados do país. A ação, realizada no último domingo (07/09) sob o lema “Não há independência, nem soberania, sem direito à moradia”, visa pressionar por políticas habitacionais e denunciar o déficit de mais de 8 milhões de moradias no país.
A mobilização conta com o apoio da organização política Unidade Popular (UP) e foi batizada de "Palestina Livre", em solidariedade e como forma de denúncia ao genocídio do povo palestino em Gaza.
Ocupação Clóvis Moura em Teresina
Em Teresina, a ação do MLB se materializou com a ocupação de um prédio abandonado no centro da cidade, localizado na Rua Olavo Bilac, 1148, ao lado da Praça Saraiva. O imóvel, que pertence à Universidade Federal do Piauí (UFPI), está vazio há muitos anos e abrigou no passado a antiga Faculdade de Filosofia, um conhecido palco de resistência à ditadura militar nos anos 1960.
Batizada de Ocupação Clóvis Moura – em homenagem ao professor e intelectual piauiense –, a ação abriga inicialmente 40 famílias sem-teto. O objetivo da ocupação em Teresina é duplo: fornecer moradia digna para famílias em situação de vulnerabilidade e pressionar o poder público para que cumpra a promessa de revitalizar o centro da capital, área que concentra mais de dois mil imóveis abandonados, segundo dados do próprio movimento.
Pedro Laurentino, ex-vereador e líder da UP no Piauí, reforçou a estratégia. "Enquanto os nossos governantes prometem revitalizar o centro, mas não cumprem, o povo organizado dá sua parcela de contribuição ocupando e resistindo", declarou.
Pátio interno do prédio ocupado no centro de Teresina neste domingo (07/09)
Contexto nacional e crítica social
De acordo com balanço do MLB, a jornada resultou em 18 novas ocupações em todas as regiões do Brasil. Priscila Santos, da coordenação estadual do movimento em São Paulo, contextualizou a luta: “Nosso povo vive com um salário de miséria que não dá para pagar o aluguel e comprar o prato de comida. Nessas condições, falar que o país é independente e soberano é absurdo”.
A escolha do nome "Palestina Livre" para a jornada nacional amplia o escopo da protesto, ligando a luta por moradia no Brasil à crise humanitária em Gaza. O movimento destaca que mais de 70 mil palestinos foram assassinados e 80% das edificações na Faixa de Gaza foram destruídas, gerando 2 milhões de deslocados. “As famílias se solidarizam com o povo palestino e usam a ocupação para denunciar o genocídio”, afirmou o MLB em nota.
Família limpam o prédio ocupado no centro de Teresina