Olhe Direito!

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OLHE DIREITO

Sobre bom senso e livre-arbítrio

O bom senso há de ser, mesmo antes da fé, um de nossos melhores guias e conselheiros.

Alvaro o Mota

Quinta - 10/04/2025 às 16:02



Foto: Foto: Reprodução Bíblia
Bíblia

Não tem sido poucas as polêmicas envolvendo a defesa de instrumentos legais que permitam algumas práticas religiosas no âmbito de espaços oficiais, o que pode parecer uma boa ideia, mas que sempre deve ser olhado, se pelo viés constitucional, com o devido cuidado, porque em boa medida qualquer ação desse tipo pode ensejar uma quebra do princípio da laicidade do estado.

Trago comigo uma fé que surge em mim pelos ensinamentos de pai e mãe, que por sua vez repassaram-me essas lições apreendidas de seus pais, numa sucessão de ancestral de religião e de cultura. Trabalhei em Recife junto a dom Hélder Câmara e dele posso dizer que aprendi a lição de que respeito, tolerância e bom senso fazem um bom católico – assim como fazem um bom seguidor de qualquer credo.

O bom senso há de ser, mesmo antes da fé, um de nossos melhores guias e conselheiros. Assim, parece-me adequado que a gente aja mais pela sensatez do que simplesmente pela fé – mais ainda se professada em nome de somente um credo. Neste sentido, temos que pensar na fé como um mecanismo de Deus presente não apenas naquilo o que cremos, mas também em prática religiosa diversa.

Como já posto, tenho o catolicismo como guia para minha fé, aprendido em casa, herdado de minha ascendência. É por ele que me guio, por exemplo, para citar que, se tenho o livre-arbítrio, dele devo fazer o melhor uso, seja porque temo a Deus e n'Ele tenho fé, seja porque melhor farei uso dessa fé se agir com bom senso, o que me exige pensar e nunca agir de mudo impulsivo e impensado.

Santo Agostinho nos ensina que o livre-arbítrio é bem concedido por Deus, fonte de todo o bem, mas que isso somente se faz pelas nossas mais adequadas escolhas, ou seja, podemos escolher entre fazer ou não o que é certo; podemos agir para que, atuando de modo adequado, promovamos o bem. Ora, assim sendo, se nos guiarmos pela sensatez temos bem mais chances de não errar.

O não errar requer que se avalie de modo sensato aquilo o que se pode ou não fazer. São Paulo, em texto contido em carta aos coríntios – um texto bíblico – assevera que tudo s nós é permitido, mas nem tudo nos convém, o que significa que podemos e devemos, como ele aconselha, não nos deixar cair em dominações, apenas porque tudo nos é permitido.

O texto de São Paulo está em linha com o que escreveu Santo Agostinho sobre o livre-arbítrio e ambos sugerem, ainda que não diretamente, que a nós cabe agir com bom senso e moderação – medir e pesar nossas palavras e ações deve ser um guia para uma vida melhor – afinal em certas circunstâncias podemos ser guiados pelo caminho da hipocrisia ao rejeitar o bom senso ou ao não evitar excessos porque tudo nos é permitido.

Lembro-me, assim, de uma outra lição que desde cedo aprendi: a de que devemos, antes de tudo. olhar para dentro de nós, porque conforme está em outra passagem bíblica bastante conhecida, no evangelho de Mateus, muitas vezes podemos estar nos dando conta de um cisco nos olhos alheios quando não reparamos que nossos próprios olhos estão tomados por uma viga. É preciso que a gente primeiro apure nosso olhar para somente depois observar como se comportam os olhares dos outros.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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