Olhe Direito!

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ANO NOVO

Começar de novo

O ano novo é um recomeço

Por Álvaro Mota

Terça - 31/12/2024 às 18:13



Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil Fogos de artifício na Esplanada dos Ministérios em Brasília
Fogos de artifício na Esplanada dos Ministérios em Brasília

O que hoje se publica aqui escrevi nos dias finais do ano que ficou para trás e que passa a ser memória em todos nós. Estamos diante do futuro que se poderá desenhar em 364 dias pela frente. Cada um de nós vai escrever essa história e se dela personagem – se protagonista ou não, a depender de nossa vontade e de nossos esforços pessoais, mas também de boa dose de sorte e das condições em que estamos neste enredo ainda a ser posto no papel do tempo.

O Ano Novo é, na verdade, um recomeço. Carlos Drummond de Andrade, em sua “Receita de Ano Novo”, propõe-nos que:

“Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.”

A proposta é boa, porque de nada adianta apenas esperar que o novo surja como uma dádiva ou como mera consequência do passar dos dias. É merecedor da novidade menos que a espera e mais quem a constrói, quem a faz com suas próprias mãos, por ações e palavras.

Drummond, neste mesmo grande poema, nos ensina que para a gente merecer o Ano Novo devemos ser proativos, porque não ocorrerá a novidade de um ano novinho em folha para quem parvamente acreditar que as mudanças ocorrerão burocraticamente por decreto de esperança. Todas as boas mudanças, como a justiça entre pessoas e estados, ou a liberdade, somente podem se dar por esforço, por luta, por suor derramado.

O poeta mineiro nos ensina com graça e palavras bem-postas que o futuro não é de quem o deseja, mas de quem o merece – por iniciativa de fazê-lo. Isso me lembra uma assertiva mais pragmática, certamente desprovida da beleza poética, mas carregada da mesma verdade. Falo do que sugeriu a impossibilidade de se prever o futuro, mas a certeza de se poder criá-lo. Então, para que o Ano novo, um caminhar de 365 dias para o futuro, seja merecido é fundamental que a gente já o tenha feito, trabalhando antes, organizando nossas vidas e finanças e sendo também mais afeito à empatia, à proximidade afetuosa com as pessoas.

Está evidente que Ano Novo como sinônimo de futuro não se pode fazer como numa receita de bolo que, sendo seguida, não desanda. Mas também é claro como o dia que se não agirmos para fazer deste ano um tempo melhor para nós e os outros, o que é novidade vira rotina ou, ainda pior que isso, se torna uma cópia ruim de um passado que não gostaríamos de reviver.

Então, diante de nós temos 12 meses abertos para percorrer como o futuro. Sabemos que não temos controle sobre o tempo físico, que passa independente de nosso querer – sendo essa inexorabilidade um elemento a ser levado em conta sempre: é preciso se aproximar do tempo com ternura, sem contra ele se rebelar, não o irritando, brindando-o com sabedoria para receber dele os favores, não sua ira, conforme sugeriu Raduan Nassar.

Temos, então, que lidar com o tempo – e o futuro, com efeito – numa perspectiva de que estamos em desvantagem, e fazer esse conhecimento sobre a inexorabilidade, um mecanismo para vencer. Isso significa inventar o futuro para merecê-lo, fazendo-o com uma relação amistosa e de sabedoria com o tempo, que não para nem envelhece.

Creio que o merecimento de um Ano Novo, que ao fim e ao cabo envelhece para termos um recomeço, dá-se por nossos esforços contínuos e fazer o que é bom, certo e inovador. Essa nossa ação de promover o bem e a justiça faz coisas boas e novas, torna o Ano Novo melhor na corrente eterna do passar dos dias e torna real nosso desejo de Feliz Ano Novo.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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