Olhe Direito!

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A dor ensina a gemer

No momento, assistimos à tragédia causada por chuvas de dimensões inimagináveis no Rio Grande do Sul.

Alvaro Mota

Quinta - 09/05/2024 às 16:33



Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini Enchentes no Rio Grande do Sul
Enchentes no Rio Grande do Sul

Um ditado que ouvi de meu pai e minha mãe e de todos os meus tios e tias foi que a dor ensina a gemer. É uma sabedoria antiga, mas que nunca perde o rumo ou a atualidade, porque sem que a gente padeça de algum modo, não há meio que nos faça agir de modo certo para evitar, acabar ou ao menos mitigar a razão de nossas dores.

Essa sabedoria se aplica a tudo na vida – seja sob o aspecto pessoal, seja sob o modo de vida coletivo ao qual todos nós estamos submetidos, mesmo quem diga preferir a solidão ou a distância das pessoas. Viver coletivamente é um imperativo da Humanidade desde sempre e nesse sentido nós temos o dever de manter a nossa característica humana como seres colaborativos.

No momento, assistimos à tragédia causada por chuvas de dimensões inimagináveis no Rio Grande do Sul. Centenas de milhares de pessoas foram afetadas pelas inundações, algumas com perda total de bens materiais, outras com perdas de vidas, todas com alguma dor nesse ambiente de tragédia que nos comove e nos faz também sentir a dor do outro.

Assim, a dor que sentimos todos nós brasileiros nos faz retomar uma lição muito boa, não a de chorar ou lamentar, mas a de que se mover em solidariedade aos que no Rio Grande do Sul, exauridos pela inundação, precisam de nossa ajuda. Tem sido bonito demais ver os brasileiros agindo em corrente de solidariedade – eclipsando, aliás, os que em vez de sentir a dor e ajudar, preferem fazer críticas. Esses são, felizmente, poucos, embora o barulho deles até incomode, mas não a ponto de desfavorecer a ação humanitária que é própria de nós humanos.

Mas devemos retomar o tema da dor que ensina a gemer, porque se por agora está todo o país motivado para ajudar o Rio Grande do Sul, o esmaecimento da tragédia pode nos relançar a uma zona de conforto em que podemos esquecer a lição da tragédia de agora. Precisamos tornar essa dor em fonte permanente de aprendizado.

O passo inicial dessa lição é a de que podem outras regiões do Brasil serem atingidas por eventos climáticos extremos como a chuva que destruiu boa parte das vidas e das economias do povo gaúcho. Então, o que haverá de ser feito no estado gaúcho de agora em diante precisa ser encarado como uma espécie de laboratório para o resto do Brasil.

O Rio Grande do Sul vai ter que recuperar infraestruturas de estradas e urbanas, casas, equipamentos estudantis e hospitalares, campos agrícolas etc. Tudo ao mesmo tempo para retomar a vida e a economia. Também precisará fazer obras para contenção de enchentes e adotar medidas para alertas de desastres naturais. São ações e medidas que podem e devem ser feitas como um experimento tecnológico socioambiental capaz de ser replicado em outras regiões do país, guardadas as suas peculiaridades regionais e climáticas.

A gente pode tomar por exemplo a terra em que vivemos. Temos uma série de cidades situadas às margens de rios e que podem, a exemplo das cidades gaúchas, ser atingidas por inundações – o que nos leva a crer que medidas de prevenção e alerta a serem implementadas doravante no Rio Grande do Sul possam servir de modelo para nós piauienses.

Teresina, Parnaíba, Floriano, Picos, Barras, Esperantina, Luzilândia e outras tantas cidades piauienses estão sujeitas a inundações se houver chuvas atípicas em quantidades muito superiores à carga suportada pelos rios.  Isso não é obviamente um desejo de nossa parte, mas é uma possibilidade a ser considerada, levando em conta outros momentos de graves inundações nestas cidades.

Assim, é algo muito razoável que tenha no exemplo de dor dos gaúchos uma lição para que se adotem medidas que não nos levem a aprender a gemer pela dor, já que pelo padecimento passado pode-se aprender a evitar o sofrimento futuro.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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