No Brasil, os recursos públicos vêm da arrecadação de impostos pagos por todos nós. Por isso, é essencial que esse dinheiro seja administrado com total transparência — desde sua origem até o destino final. No entanto, essa trajetória nem sempre é clara, e muitas vezes acaba desviada de sua finalidade original.
O Tribunal de Contas da União (TCU) é o órgão responsável por fiscalizar os gastos públicos. Vinculado ao Poder Legislativo, ele atua como controle externo, verificando a legalidade, legitimidade, economicidade e eficiência das despesas. Mas há um ponto crítico: sua atuação ocorre apenas depois que o dinheiro já foi gasto. Ou seja, o TCU não tem poder para autorizar pagamentos ou bloquear liberações suspeitas — isso cabe ao Poder Executivo.
E é justamente aí que mora o problema. A ausência de fiscalização prévia abre espaço para corrupção, desvios e uso indevido das verbas públicas. O modelo atual, consagrado na Constituição, precisa ser revisto. O TCU, com sua estrutura técnica e imparcial, deveria participar também da liberação dos recursos, funcionando como um filtro antes que o dinheiro chegue às mãos de gestores locais.
Prefeituras e emendas parlamentares: os pontos frágeis — Dois exemplos emblemáticos ilustram essa fragilidade:
Prefeituras: em muitos municípios, o dinheiro público é mal aplicado ou simplesmente desaparece. Licitações fraudulentas, empresas fantasmas e pagamentos indevidos são comuns. A solução? Que os tribunais de contas façam auditoria prévia de cada pagamento, compra ou contrato. Os prefeitos deixariam de ter acesso direto aos recursos e passariam a apenas indicar onde devem ser aplicados, com aval técnico e jurídico dos tribunais.
Emendas parlamentares: o volume de emendas e municípios beneficiados é enorme. Mas isso não pode servir de desculpa para fiscalizar apenas por amostragem ou denúncia. Cada pagamento precisa ser auditado antes de ser feito. O contribuinte merece saber que seu dinheiro está sendo usado com honestidade.
A propósito de emendas, deveria haver apenas emenda de Bancada, ou seja, propostas coletivas de parlamentares de um mesmo estado para projetos estruturais regionais, como rodovias, hospitais, escolas, universidades.
Hora de repensar o modelo. O Brasil tem meios para impedir que o dinheiro público vire combustível para esquemas de corrupção. O que falta é vontade política. Se necessário, que se faça uma revisão constitucional para ampliar o papel do TCU. Porque uma coisa está clara: dinheiro público nas mãos erradas é um risco real.
Enquanto muitos municípios enfrentam ruas esburacadas, escolas precárias e falta de infraestrutura básica, o dinheiro que poderia resolver esses problemas é desviado ou mal administrado. É hora de mudar esse cenário — com mais controle, mais transparência e menos espaço para falcatruas.
Júlio César Cardoso
Servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC