
Pesquisadores brasileiros descobriram compostos químicos nas esponjas marinhas com grande potencial para combater o parasita que causa a malária, até mesmo as cepas resistentes aos tratamentos atuais. A pesquisa foi publicada na revista ACS Infectious Diseases.
A malária é uma doença grave transmitida por mosquitos do gênero Anopheles e causada por protozoários. Ela mata muitas pessoas no mundo todo, principalmente crianças com menos de 5 anos. A OMS estimou que, em 2023, cerca de 600 mil pessoas morreram devido à malária.
Os pesquisadores identificaram dois compostos, chamados batzelladinas F e L, que agem rapidamente contra os parasitas da malária. Esses parasitas incluem o Plasmodium falciparum (que é o mais mortal e comum na África) e o Plasmodium vivax (principal causador de malária na América do Sul). A eficácia dos compostos foi comprovada em testes com sangue de pacientes e camundongos infectados.
“Esses resultados são promissores, nos dando esperança de um novo tratamento. Embora os compostos não tenham eliminado totalmente os parasitas, eles podem ajudar a desenvolver novos tratamentos mais eficazes”, disse Rafael Guido, professor da USP e coautor do estudo.
A pesquisa envolveu uma equipe de várias universidades brasileiras, como a USP, a UFSCar, o Museu Nacional e o Centro de Pesquisa de Medicina Tropical de Roraima, com apoio de órgãos como a FAPESP e o CNPq.
Para Roberto Berlinck, professor da USP, essa descoberta também destaca a importância da biodiversidade brasileira, que está ameaçada pelas mudanças climáticas. Ele lembra que as esponjas marinhas que forneceram os compostos vivem em áreas que estão sendo afetadas pelo aquecimento dos oceanos. “Esse produto natural pode desaparecer, e com ele a chance de encontrar novos tratamentos para doenças”, alerta Berlinck.
Como foi feita a pesquisa?
Os pesquisadores isolaram as batzelladinas da esponja e estudaram sua estrutura química. Eles perceberam que esses compostos agem rapidamente contra os parasitas jovens, impedindo que se multipliquem nas células sanguíneas do hospedeiro. Segundo Giovana Rossi Mendes, também da USP, essa ação rápida é essencial, pois evita que os parasitas se adaptem ao tratamento e desenvolvam resistência.
Além de combater a malária, as substâncias das esponjas marinhas mostraram também potencial contra outras doenças parasitárias, como a leishmaniose e a doença de Chagas.
“Pode parecer estranho que uma substância capaz de tratar a malária, uma doença tropical, venha de um organismo marinho, mas isso é comum em pesquisas que buscam produtos naturais com propriedades curativas”, diz Guido.
Esses compostos são chamados de metabólitos secundários, substâncias que os organismos criam para se defender, atrair parceiros ou se proteger de predadores. As esponjas marinhas, assim como os parasitas da malária, são organismos muito antigos e têm desenvolvido essas substâncias ao longo do tempo para sobreviver em seu ambiente, os oceanos.
O artigo Marine Guanidine Alkaloids Inhibit Malaria Parasites Development in In Vitro, In Vivo and Ex Vivo Assays pode ser lido em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acsinfecdis.4c00714.
Fonte: Com informações da CNN