
Um estudo publicado na revista Pathogens avalia os avanços nas vacinas contra a Covid-19 e discute como melhorar sua eficácia diante das novas variantes do vírus.
O estudo foi coordenado por Sergio Costa Oliveira, professor da Universidade de São Paulo (USP) e líder do grupo de vacinas no Institut Pasteur de São Paulo, com a colaboração de outros pesquisadores, incluindo Fábio Mambelli, pós-doutorando. A pesquisa também contou com a participação de cientistas do Instituto Butantan.
Desafios das vacinas atuais
Embora as vacinas existentes tenham ajudado a reduzir os casos graves da Covid-19, a constante emergência de novas variantes do vírus exige novas soluções. Fábio Mambelli afirmou que, apesar das vacinas atuais ainda funcionarem contra as variantes, o vírus vai continuar mudando, o que exige vacinas mais fortes e duradouras, capazes de resistir melhor às mutações da proteína Spike — o principal alvo das vacinas atuais.
Novas variantes e a necessidade de adaptação
Desde o início da pandemia, diferentes vacinas foram desenvolvidas rapidamente, utilizando várias tecnologias. No entanto, a evolução do SARS-CoV-2 resultou em variantes, como a Ômicron, que possuem várias mutações na proteína Spike. Isso fez com que essas variantes escapassem, em parte, da proteção oferecida pelas vacinas. As vacinas baseadas na proteína Spike perderam eficácia contra essas variantes, o que fez aumentar o número de infecções, mesmo em pessoas vacinadas, e a necessidade de reforços frequentes.
Além disso, as vacinas de mRNA, como as da Pfizer e Moderna, que no começo da pandemia tiveram altas taxas de proteção, apresentaram queda de eficácia com o tempo, especialmente após seis meses. Esse declínio tem reforçado a necessidade de doses de reforço para manter a proteção.
O estudo também observou que a imunidade em pessoas idosas e em imunossuprimidos é mais fraca, o que torna necessário desenvolver vacinas mais adaptadas a esses grupos, com adjuvantes específicos ou formulações que estimulem uma resposta imune mais ampla e duradoura.
Futuras estratégias de vacina
O estudo sugere que futuras vacinas devem combinar múltiplos alvos do vírus. Por exemplo, a proteína Nucleocapsídeo (N), que é mais estável e sofre menos mutações do que a proteína Spike, poderia ser incluída nas novas vacinas para gerar uma resposta imune mais ampla e duradoura.
Uso da BCG como plataforma
Uma abordagem inovadora é usar a vacina BCG (contra tuberculose) como vetor para introduzir antígenos do SARS-CoV-2. Essa estratégia está sendo pesquisada no ICB-USP em parceria com o Institut Pasteur de São Paulo e outras instituições. A ideia é que a BCG, além de estimular o sistema imunológico, possa induzir uma resposta imune específica contra o coronavírus.
Nos testes com camundongos, a vacina BCG modificada mostrou bons resultados, proporcionando proteção contra o vírus sem sinais de infecção nos pulmões dos animais. Além disso, essa vacina pode gerar uma resposta imune mais completa, estimulando tanto anticorpos quanto a imunidade celular, o que é crucial para eliminar o vírus de forma eficaz.
Vacinas intranasais e outras alternativas
O estudo também sugere que vacinas intranasais, administradas pelo nariz, podem ser uma boa alternativa. Essas vacinas estimulam a resposta imune nas vias respiratórias, sendo a principal porta de entrada para o coronavírus. Isso pode ajudar a reduzir a transmissão do vírus e garantir uma proteção mais forte contra as variantes futuras. Como a proteína Nucleocapsídeo é mais conservada entre as variantes, sua inclusão nas vacinas intranasais pode aumentar a estabilidade da resposta imune e diminuir a necessidade de atualizações frequentes nas vacinas.
Embora as vacinas atuais tenham sido um grande sucesso no combate à pandemia, os cientistas ressaltam que é importante continuar inovando para garantir proteção duradoura contra a Covid-19 e suas variantes. A pesquisa segue em andamento para aprimorar as vacinas e garantir uma resposta imune mais robusta e estável.
Fonte: Com informações da CNN