Na virada do ano, práticas que misturam crença, tradição e afeto se repetem em diferentes regiões do país. Mesmo em tempos de incerteza, superstições seguem como rituais simbólicos de esperança coletiva e ajudam a marcar o encerramento de um ciclo e o início de outro.
Roupa branca

O hábito de vestir branco na virada do ano é um dos mais difundidos no Brasil. A prática está associada às religiões de matriz africana, nas quais a cor simboliza paz, purificação e equilíbrio espiritual. Com o tempo, o costume foi incorporado por pessoas de diferentes crenças e passou a representar, de forma ampla, o desejo por um recomeço tranquilo.
Além do branco, outras cores também carregam significados simbólicos. O amarelo é associado à prosperidade e ao dinheiro, o vermelho ao amor, o verde à saúde e o azul à serenidade. Essas associações não seguem uma regra formal, mas foram se firmando por meio da cultura popular e da repetição ao longo das décadas.
Pular sete ondas

Tradicional em cidades litorâneas, o ritual de pular sete ondas à meia-noite tem origem nas religiões de matriz africana, especialmente no candomblé e na umbanda, onde o mar é associado à divindade Iemanjá, orixá ligada à maternidade, à proteção e ao equilíbrio emocional. O gesto de entrar no mar representa um pedido de licença e de passagem para um novo ciclo. O número sete, recorrente em diversas tradições religiosas, simboliza totalidade, proteção e transformação. Ao pular cada onda, mentaliza-se um desejo, reforçando a ideia de que o ano que se inicia deve ser atravessado com esperança.
Comer lentilha, uva e romã

O consumo de lentilha, uvas e romã na virada do ano está ligado a tradições europeias, mediterrâneas e orientais que associam esses alimentos à prosperidade e à continuidade. A lentilha simboliza fartura por seu formato semelhante ao de moedas, enquanto uvas e romã representam sorte e abundância. No Brasil, esses costumes foram incorporados ao réveillon, assim como o hábito de guardar sementes ou dinheiro, gesto simbólico que expressa o desejo de prosperidade no ano que começa.
Guardar sementes ou dinheiro
Guardar sementes, caroços ou uma nota de dinheiro após a virada do ano está associado à noção simbólica de plantio e colheita. O gesto não possui origem religiosa específica, mas dialoga com saberes populares e com a ideia ancestral de que aquilo que se preserva no início do ciclo tende a se multiplicar ao longo do tempo. Trata-se de um ritual doméstico, transmitido entre gerações, que une esperança material e continuidade.
Evitar varrer a casa

A superstição de não varrer a casa após a meia-noite está presente em diferentes culturas e está ligada à crença de que a ação poderia “expulsar” a sorte recém-chegada. No Brasil, essa prática se mantém principalmente como tradição oral. O gesto simboliza cuidado com o início do ciclo e o desejo de preservar aquilo que o novo ano traz.
Abraçar na virada

O abraço coletivo à meia-noite funciona como um rito de comunhão e reconciliação. A prática, difundida socialmente e reforçada por transmissões televisivas e festas públicas, simboliza o encerramento de conflitos e o desejo de união para o novo ciclo. No contexto brasileiro, marcado por forte valorização dos vínculos afetivos, o gesto reforça a dimensão coletiva da celebração
Função social dos rituais de fim de ano
Apesar das diferenças regionais, religiosas e familiares, as tradições de fim de ano compartilham um mesmo sentido simbólico: ajudar a organizar expectativas diante da mudança. Ao repetir gestos conhecidos — vestir determinada cor, comer um alimento específico ou realizar pequenos rituais — as pessoas encontram uma forma de dar sentido ao tempo que passa e ao futuro que ainda é incerto. Essas práticas também reforçam vínculos afetivos, já que costumam ser aprendidas em família e compartilhadas em momentos coletivos, transformando a virada do ano em uma experiência social, e não apenas individual.
Fonte: Fotos: Unsplash
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