No Piauí, estado com profundas raízes na história colonial brasileira, lideranças negras emergem como protagonistas na transformação social e cultural, reescrevendo uma narrativa marcada por silenciamento e invisibilidade. Este movimento, impulsionado por coletivos, ativistas e pesquisadores, busca resgatar e valorizar a contribuição afrodescendente na formação da sociedade piauiense.
Historicamente, a presença negra no Piauí esteve associada à escravidão, especialmente nos ciclos econômicos da pecuária e agricultura. Contudo, a narrativa negra não se resume à submissão: é repleta de resistência e contribuição. Estudos recentes liderados por pesquisadores do movimento negro destacam símbolos de luta como as mais de 90 comunidades quilombolas no estado, com destaque para o Quilombo Mimbó, em Amarante.
Essas comunidades lutam pelo reconhecimento territorial e pela preservação de sua história.
Segundo o historiador Monsenhor Chaves, “recontar a história é um ato político”. Ele reforça que tal reconstrução desmascara o silêncio histórico sobre a contribuição negra, reconhecendo sua relevância na formação do Piauí moderno.
Lideranças que fazem história
No campo acadêmico e ativista, a saudosa professora Sueli Rodrigues desponta como uma das mais importantes vozes em defesa das comunidades quilombolas e dos direitos raciais no Piauí. Como pesquisadora da Universidede Federal do Piauí - UFPI, Sueli tornou-se referência na luta pela regularização fundiária e pela promoção de políticas públicas inclusivas.
Já a professora Antonia Aguiar, assistente social e coordenadora do Memorial Esperança Garcia, reforça a importância da educação na luta antirracista. O memorial homenageia Esperança Garcia, mulher negra que, em 1770, denunciou abusos em uma carta histórica.
No Brasil, lideranças como Djamila Ribeiro destacam-se no debate público e acadêmico sobre racismo estrutural. Globalmente, figuras como Angela Davis, Martin Luther King Jr., Malcolm X e Nelson Mandela permanecem ícones da luta pela igualdade racial.
Representatividade
Coletivos como o Negritude Piauiense e o Movimento Negro Unificado promovem eventos e oficinas que resgatam tradições afrodescendentes e abordam temas como racismo estrutural e representatividade. Na educação, o projeto Afro Presente, em Teresina, insere a história afro-brasileira no currículo escolar, conforme a Lei 10.639/03.
Artistas negros também ganham voz em diversas expressões culturais. A escritora piauiense Juliana Ribeiro, por exemplo, lançou um livro que destaca a luta de mulheres negras no sertão.
Desafios e conquistas e uma nova história
Apesar dos avanços, desafios como preconceito e desigualdade de oportunidades persistem. No entanto, o Piauí registra conquistas significativas: em 2024, 61% dos prefeitos eleitos no estado se declararam negros, uma das maiores proporções do país. Políticas públicas voltadas para a inclusão e a regularização fundiária das comunidades quilombolas também têm avançado.
O protagonismo das lideranças negras no Piauí fortalece a identidade e promove uma sociedade mais justa e inclusiva. Como afirma a ativista cultural Maria Eduarda Silva: “Reconhecer o papel da população negra na construção do Piauí não é apenas um ato de justiça histórica, mas também um compromisso com o futuro”.
(*) Isaac da Silva é estagiário sob supervisão do jornalista Luiz Brandão - DRT/PI-960