Mais um fim de ano se aproxima… ou seria menos um ano? Alguns calendários alertam: faltam 14 dias para 2026. As cantigas de Natal ressoam: e o que você fez? No trabalho, os superiores cobram as metas anuais com uma mão; com a outra entregam convites para confraternizar. Quem tem filhos e filhas já está com a meninada em casa, tentando equilibrar o décimo terceiro salário entre os passeios de férias e os materiais escolares para o ano vindouro.
São diversos cenários, mas um sentimento tem sido bastante comum entre todos: o cansaço. Ele aparece sob várias insígnias: ansiedade, exaustão, irritabilidade, sensação de fim de mundo, sobrecarga, frustração. Mais recentemente, vem sendo conhecido como dezembrite. Mas como lidar com as diversas manifestações desse fenômeno? Por que ele ocorre?
Segundo a psicanalista Milena Albuquerque, seria necessária uma investigação profunda de cada sujeito para entender as causas, bem como as possibilidades de lidar com esse desgaste que não é apenas psíquico, afeta o corpo, as relações sociais, as atividades da vida cotidiana. “Cada especialista vai tentar tratar disso da maneira de onde parte; médicos receitam vitaminas ou exames, terapeutas recomendam exercícios para enfrentar cada situação, mas no fundo é sempre uma experiência que passa por si mesmo. Por isso, enquanto muitos entram em recesso, há sempre um aumento na demanda da clínica durante esse período”, afirma.
Enquanto as maneiras de lidar são individuais (cada um faz o que pode com o que tem - e com o que não tem também), diversas causas são coletivas. Primeiro que o tempo do calendário nunca é coincidente com o tempo vivido. A prova disso é que às vezes é mais fácil lembrar, com facilidade e riqueza de detalhes, algum episódio da infância, ao passo que recordar o que almoçou quatro dias atrás pode ser dificílimo. Nossos presentes estão cheios de passado e de futuro. E já sabemos que as 24h do dia não são as mesmas para todo mundo.
Outro fato merece destaque nesse cenário: o aumento no uso de ferramentas tecnológicas e a ilusão de “ganho de tempo”. Embora elas facilitem - e muito - alguns processos do dia-a-dia, dando a falsa sensação de que é possível estar em vários lugares ao mesmo tempo, manejando distintas situações através do celular, por exemplo, a relação sujeito-máquina também acarreta desgastes, por vezes quase imperceptíveis, ao ser humano. Para quem acumula muitas funções e responsabilidades, a sobrecarga é real.
Sendo assim, é necessário que cada um reflita sobre as condições pessoais para lidar com esse cansaço e para reconhecer o momento de pedir ajuda, sem precisar esperar pelo fim. Afinal, o fim mesmo só vem com a morte - e esse é um momento para celebrar a vida que se renova. Mesmo nos casos de luto, que comumente afloram durante esse período festivo, é preciso paciência e acolhimento para encará-lo. Só não sofreu quem não amou.
A maioria das situações são possíveis de resolver através do diálogo, do reconhecimento de limites, da priorização do tempo de descanso e lazer. Outras tantas podem esperar para o ano que vem. É hora de reconhecer o que é mais importante, avaliar o ano que passou com a gentileza de quem planeja um futuro mais próspero. Toda falha aponta caminhos para intervenção, mudando os planos ou recalculando a rota. Os acertos revelam potências, merecem reconhecimento pessoal e celebração das conquistas. Vivemos dias pós-pandêmicos e, apesar do caos, é preciso lembrar que todo fim é também um recomeço - ou, pelo menos, é um meio do caminho. Descansa!
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