
Nascido em Amarante, no Piauí, o professor José da Cruz Bispo de Miranda carrega em sua trajetória acadêmica e pessoal a luta contra as marcas profundas da escravidão no Brasil. Com mestrado e doutorado pela PUC-SP e pós-doutorado em Lisboa, o pesquisador mergulhou na antropologia e na segurança pública para desvendar como o racismo estrutural persiste, mesmo após a abolição formal em 1888.
Em entrevista ao Portal Piauí Hoje, Bispo destacou que a Lei Áurea foi apenas um marco legal, mas não garantiu liberdade real aos negros. "A abolição foi uma fachada. O sistema produtivo continuou excluindo a população negra, que ficou sem terra, trabalho ou reparação histórica", afirmou. Ele ressaltou como a elite brasileira promoveu a migração europeia para substituir mão de obra negra, perpetuando a marginalização.
Do Passado ao Presente: As Cicatrizes da Escravidão
O professor explicou que o projeto de embranquecimento da sociedade, reforçado por teorias como as de Gilberto Freyre, criou uma falsa narrativa de democracia racial. "A mestiçagem foi usada para diluir identidades negras, mas o racismo continuou enraizado", disse. Bispo citou o livro "O Negro no Mundo dos Brancos", de Florestan Fernandes, para ilustrar como as estruturas sociais foram desenhadas para excluir negros do acesso a direitos básicos.
Avanços e Desafios
Apesar do cenário histórico desfavorável, Bispo destacou conquistas recentes, como as cotas raciais no ensino superior e o debate sobre trabalho análogo à escravidão. "Hoje, incluímos brancos nessa discussão, mas a maioria ainda é negra. Precisamos de políticas que enfrentem o legado da escravidão", defendeu.
A história do professor Bispo reflete a resistência negra no Brasil. Sua pesquisa acadêmica e ativismo mostram que a luta por igualdade ainda é urgente — e que o passado escravocrata segue vivo nas desigualdades de hoje.