
O presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Gilberto Waller Júnior, disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que está fazendo uma grande limpeza no órgão. O objetivo é revisar todos os processos de concessão de benefícios e trocar pessoas em cargos importantes por servidores experientes e concursados. “Temos que analisar tudo, do começo ao fim”, afirmou. A ideia é recuperar a confiança da população, que foi abalada por casos de fraudes, escândalos com empréstimos consignados e suspeitas de uso político dos cargos.
Segundo Waller, as novas nomeações para cargos de chefia vão seguir critérios técnicos, como quer o presidente Lula. “Estamos mexendo em vespeiro. Quando a gente bloqueia pagamento ou empréstimo, arruma muita confusão”, disse ele. Para Waller, agora é o momento certo para fazer mudanças profundas: “Se alguém tiver suspeita de irregularidade ou foi indicado por político, agora é hora de tirar”.
Ele também falou sobre o futuro dos empréstimos consignados, que têm causado muitos problemas para o INSS. Waller afirmou que, apesar de o órgão ganhar cerca de R$ 117 milhões por ano com esse modelo, as fraudes estão prejudicando muito a imagem da instituição. “Talvez o melhor seja acabar com isso. O INSS nem deveria fazer parte desse sistema de empréstimos”, declarou.
Waller contou que o clima interno dentro do INSS está muito ruim. “Acho que o ambiente está péssimo mesmo. O INSS deve ser um lugar onde o segurado se sinta bem, não algo ligado a escândalos, operações da polícia, propina ou dirigentes com milhões na conta. Estamos no meio do furacão. Além de trocar a gestão, precisamos dar uma resposta rápida para a sociedade”, disse.
Ele criticou a centralização das decisões e elogiou a recente mudança que deu mais autonomia para nomear coordenadores. Para Waller, é melhor que essas escolhas sejam feitas por quem conhece a realidade local. “Quanto mais alto o cargo, mais difícil é para o ministro saber se a pessoa é mesmo a ideal para liderar uma agência”, explicou.
Sobre as fraudes cometidas por associações que aplicaram descontos irregulares nos benefícios, Waller disse que o governo vai pedir autorização à Justiça para vender bens dessas entidades e, assim, devolver o dinheiro aos aposentados o mais rápido possível. Segundo ele, R$ 2,5 bilhões já estão sendo analisados pela Justiça.
Ele também comentou que, durante a pandemia, a falta de controle presencial e a dependência do sistema digital facilitaram as fraudes. “Com menos gente fiscalizando e mais uso de tecnologia, abriram espaço para golpes. E tem gente que agiu na pandemia e continua fraudando agora”, alertou.
Ao ser questionado sobre entidades próximas do governo, como a Contag e a Conafer, Waller disse que as decisões foram tomadas com base em critérios técnicos e que, por enquanto, não há provas suficientes para punições mais severas.
O presidente quer criar um grupo para discutir o futuro dos empréstimos consignados e dos descontos feitos por associações nos benefícios. “Às vezes eu penso: o segurado precisa de uma proteção maior. Mas, por outro lado, o INSS está tendo sua imagem arranhada por se envolver em situações que nem deveria”, disse.
Por fim, Waller afirmou que o governo só vai usar dinheiro público para indenizar os segurados se todas as tentativas de recuperar o dinheiro na Justiça falharem. “Precisamos saber quantas pessoas foram prejudicadas, qual foi o prejuízo real. O valor pode chegar a R$ 5,9 bilhões”, explicou, referindo-se aos cerca de 9 milhões de segurados que tiveram descontos desde 2020.
Fonte: Brasil 247