O conceito de "Povo de Deus", uma das principais inovações teológicas do Concílio Vaticano II (1962-1965), trouxe uma nova perspectiva para a compreensão da Igreja Católica Romana e seu papel na sociedade. Nos documentos conciliares, o termo refere-se a toda a comunidade cristã, não apenas à hierarquia clerical e aos membros consagrados, significando que todos os batizados têm um papel ativo na missão da Igreja e na construção do Reino de Deus na Terra.
Essa visão busca superar barreiras e promover a igualdade e dignidade de todos os cristãos, enfatizando a participação ativa de todos na missão da Igreja e na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, conforme ensinado por Jesus: "Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres', pois um só é o vosso Mestre, e vós todos sois irmãos... O maior dentre vós será o vosso servo" (Mt 23, 8-11).
Em seu livro "O Povo de Deus", José Comblin amplia o conceito para além da comunidade cristã, abrangendo todos os povos que buscam justiça social e libertação dos oprimidos. Para ele, a história do povo de Deus é marcada pela luta e resistência contra estruturas opressoras, sempre ao lado dos pobres e marginalizados. Comblin destaca que essa concepção influenciou a democracia moderna, que busca garantir a participação ativa do povo na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Segundo Comblin, o agir do povo de Deus é caracterizado pela solidariedade com os mais fracos e oprimidos, disposição de lutar por justiça social e vida em pequenas comunidades. Ele afirma que "um povo é tecido de pequenas comunidades e não de indivíduos isolados" e que aqueles que não se solidarizam, mas dominam, exploram e ficam indiferentes às necessidades dos outros, não fazem parte do povo de Deus.
O conceito de "Povo de Deus", conforme apresentado nos Documentos do Concílio Vaticano II e aprofundado por José Comblin, oferece uma visão renovada da Igreja e da sociedade. Essa perspectiva desafia a todos, especialmente as lideranças religiosas, a serem servidores do povo, promovendo a igualdade, a justiça social e a solidariedade. Apesar dos esforços do Papa Francisco em atualizar essa visão, ainda há um longo caminho a percorrer para que a Igreja e a sociedade vivam plenamente o ideal do Povo de Deus.