Proa & Prosa

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Neofascismo mata

Parece esperançosa essa lembrança de Raimundo Bonfim, a propósito do que vislumbra sobre os dias eleitorais que correm céleres para 2 de outubro.

Fonseca Neto

Quarta - 14/09/2022 às 18:01



Foto: Roberto Stuckert Filho Lula na réplica da casa onde morou
Lula na réplica da casa onde morou

O poema Arena conta Zumbi, de Guarnieri, diz: "Ah eu vivi na cidade no tempo das desordens, eu vivi no meio da gente minha no tempo da revolta, assim passei os tempos que me deram pra viver! E você que me prossegue. E vai ver feliz a Terra. Lembre bem do nosso tempo. Desse tempo que é de guerra".

Parece esperançosa essa lembrança de Raimundo Bonfim, a propósito do que vislumbra sobre os dias eleitorais que correm céleres para 2 de outubro. “Lula vencerá no 1º Turno”? Sim e não.

Sim: "A receita está na mobilização da classe média progressista, que precisa se mexer, sair da posição de torcedor de pesquisa de opinião".

Sim: “... classe média progressista, que precisa se mexer, levantar-se do sofá, adiar passeios, não ficar esperando cargos que caiam no colo num futuro governo, sair da posição de torcedor de pesquisa de opinião e se juntar à militância dos movimentos populares e dos partidos políticos para tomarmos as ruas por Lula presidente... E, para isso, o programa eleitoral e o próprio Lula terão de fazer esta convocação, envolvendo inclusive artistas, influenciadores e figuras que dialogam com os setores médios. Somente assim poderemos liquidar a eleição no primeiro turno e evitar a chantagem da burguesia que pressionará pelo rebaixamento do nosso programa, em caso de segundo turno”.

Bonfim está certo. Mais que quase todos de nós ele entende de movimento popular organizado, pois coordena nacionalmente a Central que o mobiliza.

É realista quanto à emergência que clama pela máxima mobilização dos democratas todos, além dos setores organizados do povo para deter a ampliação do poder neofascista nesse Outubro que vem, e noutros.

O coordenador lembra do quanto tem sido indispensável a luta da organização popular em certo refreamento “do desfecho de um longo processo iniciado com o golpismo tucano ao não aceitar o resultado eleitoral de 2014, que estimulou a ascensão de movimentos de extrema direita, fascistas e antidemocráticos ao poder e produziu como resultado a crise política, econômica e ética que vivemos atualmente”.

No que sugere corretamente como déficit de mobilização – simbolizado no sofá –, Bonfim concita ao engrossamento da rua em mobilização popular de rechaço ao neo-neo, fascismo e liberalismo, que é forte e não deve ser tratado com a mansidão dos pacientes de um ritmo “natural” da História.

O jogo jogado pela extrema-direita é bruto; as plumas têm limite no enfrentamento dela. O destroçamento acelerado dos esforços da paz social – corolário da experiência democrática –, exemplificada na cassação dos direitos ao trabalho sem escravidão, é das violências a mais arrasadora. O real revés civilizatório. Disso decorre o imperativo de ruas convictas para deter esse hediondo revés. Ruas inflamadas de convicção e movidas pela beleza da vida, que outra não é que a justiça que leva à igualdade, nos conformes da ética e que detém a violência da barbárie.

No Brasil, que não conhece a democracia e a própria liberdade, senão como “concessão” muito onerosa de opressores obscenos, rechaçar na rua a violência das milícias da extrema direita no processo eleitoral é apenas um certo recomeço nos 5 cinco séculos de massacre e roubo de vidas para enriquecer o conhecido opressor.

“Classe média progressista no sofá esperando pesquisa” – terrível ironia mas antes de tudo uma “contradição” –, que a conjuntura 2002-2016 assinalou. Não é uma vanglória – senão uma vã gloria – do querido Luís de Caetés?

Enriquecer ou pensar como rico, em realidades social e política ruinosas, de ignorância profunda, tal a brasileira, é incorrer naquelas abominações da dita classe média que a filósofa-luz Marilena tanto denuncia.

Duro dizer: na pactuação à direita para manterem à proa um ensaio de projeto esperançoso à esquerda, Lula e Dilma ampliaram essa “classe” pelo consumo, pelo emprego estatal estável, pela ampliação da educação escolar... Por que a democracia, a liberdade, a justiça, a ética da igualdade, não entraram como qualificadora da “consciência” dessa “classe”, agora no sofá... Pior: que agora corre para o lazer no “club” dos matadores?

Um drama a vencer. Lula lá: a luta inadiável. E sejam os legionários da vitória, a legião da ocupação.

Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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