Há muito tempo se foi a era em que o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, inspirava um mínimo de respeito, não apenas pelos segurados, mas por aqueles que constituem sua espinha dorsal: os servidores. Nos últimos anos, a gestão da autarquia tem sido um estudo de caso sobre o esvaziamento e a desvalorização do serviço público. O que se vê é uma política institucional que trata pessoas como máquinas descartáveis, um processo de desmonte que atinge seu ápice no interior do país, como no Piauí, onde o INSS está praticamente fechado, abandonado e "suspirando" por um home office que parece mais uma quimera do que uma realidade.
A prova mais crua e simbólica desse desprezo veio à tona com a morte da médica Maria Gláucia da Costa Veloso, de 62 anos. Uma servidora que dedicou 35 anos de sua vida ao INSS, falecendo no exercício da profissão, em um plantão no Hospital de Teresina (HTI). A resposta da Gerência do INSS no Piauí? Uma nota de falecimento tão malfeita, tão desleixada, que sequer foi capaz de conferir o nome e a idade daquela que por décadas foi parte da instituição. O autor do comunicado não se deu ao trabalho de uma verificação mínima, um ato último de respeito que foi negado. Esse episódio não é um mero erro de digitação; é a síntese de uma cultura de desumanização.
Esse caso não é isolado. Uma breve pesquisa nas plataformas de reclamação e em sindicatos revela um cenário alarmante. Servidores do INSS por todo o Brasil reportam sobrecarga de trabalho, assédio moral, falta de estrutura física e tecnológica para exercer suas funções e uma sensação generalizada de abandono por parte da cúpula do Instituto. A pressão por produtividade, medida muitas vezes por metas inatingíveis, ignora completamente as condições de trabalho e o esgotamento mental dos profissionais. Eles são tratados como recursos, não como pessoas.
No Piauí, a situação é ainda mais crítica. Relatos dão conta de uma autarquia definhada, com unidades praticamente paralisadas e sem sequer um departamento de Recursos Humanos atuante para cuidar de seu próprio pessoal. O abandono é tanto que a simples menção ao home office soa como uma ironia em um ambiente onde o suporte básico para o trabalho presencial já é uma luta diária. Como pode uma instituição que é a porta de entrada para os direitos previdenciários de milhões de brasileiros operar nesse estado de letargia?
A nota de falecimento da Dra. Maria Gláucia é, portanto, a metáfora perfeita. Ela revela uma administração tão desconectada e descompromissada que é incapaz de honrar a memória de quem lhe serviu por uma vida. Se não há respeito pelos que partiram, que dirá pelos que permanecem na labuta diária, enfrentando a insatisfação dos segurados, que são, em última instância, as outras grandes vítimas desse mesmo descaso.
É urgente que a gestão nacional do INSS olhe para dentro de casa. Reconstruir o respeito começa pelo reconhecimento do valor de seus servidores, pela oferta de condições dignas de trabalho e, acima de tudo, pela restauração de uma cultura organizacional que enxergue o ser humano por trás do cargo. O legado de servidores dedicados como a Dra. Maria Gláucia merece mais do que uma nota malfeita; merece uma instituição revitalizada e que honre seu sacrifício.
Respeitem ao menos a memória dos servidores!!!
A nota da Gerência do INSS com erros grosseiros
Luiz Brandão
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