Blog do Brandão

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MULHERES NO COMANDO

Protagonismo de Janja incomoda porque rompe com o papel coadjuvante de primeira-dama

A primeira-dama do Brasil rompeu com o papel tradicional e isso incomoda, porque ela representa a reação das mulheres ao conservadorismo retrógrado e à hipocrisia

Por Luiz Brandão

Domingo - 25/05/2025 às 15:18



Foto: Montagem Piauí Hoje Janja representa reação ao conservadorismo de Michelle
Janja representa reação ao conservadorismo de Michelle

O papel das primeiras-damas no Brasil sempre foi alvo de disputas ideológicas. Enquanto Michelle Bolsonaro personificou o modelo conservador—discreta, alinhada ao lar, sem protagonismo político e presa ao preconceito religioso, Janja Lula da Silva assumiu um lugar de fala ativa, defendendo causas sociais e participando diretamente da gestão governamental.

Essa diferença não é apenas política, mas também reflete a luta de uma contra o machismo estrutural que ainda dita como uma mulher na esfera pública "deve se comportar" e a submissão da outra ao conservadorismo irracional.

Nesta análise, comparamos as trajetórias das duas primeiras-damas, destacando como Janja desafia estereótipos, enquanto o legado de Michelle reforçou um ideal retrógrado de submissão feminina.

Michelle Bolsonaro: A primeira-dama evangélica 

Formação e trajetória

  • Graduada em Enfermagem (Universidade Estácio de Sá), mas sem atuação na área.  
  • Ex-secretária parlamentar de Jair Bolsonaro antes do casamento (2007).  
  • Perfil discreto: evitou pautas polêmicas e limitou-se a ações simbólicas, como cultos evangélicos e o projeto "Pátria Amada Brasil", sem impacto concreto.  

O conservadorismo como marca

  • Alinhada ao discurso ultrarreligioso e antifeminista do governo Bolsonaro.  
  • Ausente em debates sobre violência doméstica ou direitos das mulheres —temas urgentes durante sua gestão.  
  • Gastos polêmicos com cartão corporativo, como a reforma milionária do Palácio da Alvorada, sem justificativa social.  

Por que a direita a elogia?

  • Cumpriu o estereótipo da "mulher recatada", aceitando um papel coadjuvante.  
  • Não ameaçou o status quo machista, ao contrário de Janja.  

Janja: protagonismo das mulheres no poder
Janja Lula da Silva: A primeira-dama protagonista

 Formação e militância

  • Socióloga (UFPR) com mestrado em Sociologia Política—base acadêmica sólida.  
  • História no movimento estudantil e no PT, atuando como assessora parlamentar e em projetos sociais. 

Protagonismo na esfera pública

  • Participa ativamente de agendas governamentais, como:  
  • Combate à violência contra a mulher (apoio ao Ministério das Mulheres).  
  • Defesa de povos indígenas e quilombolas.  
  • Incentivo à cultura e economia criativa.  
  • Presença em reuniões oficiais e articulação política, algo inédito para primeiras-damas no Brasil.  

Por que a direita a critica?

  • Incomoda por romper com a submissão esperada das mulheres na política.  
  • É atacada por ser intelectual e politizada, enquanto Michelle era "elogiada" por ser "apolítica", embora queira ser candidata em 2026.

A hipocrisia do machismo na política 

A diferença de tratamento entre as duas revela:  

  • Janja é julgada por falar; Michelle era "bem-vista" por se calar.  
  • Direita prega liberdade, mas rejeita mulheres com autonomia.  
  • O mesmo grupo que critica Janja ignorou os gastos de Michelle.  

Jair Bolsonaro e Michelle no Palácio do Planalto
Michelle Bolsonaro: Origem e formação familiar  

  • Nascida Michelle de Paula Firmo Reinaldo (1982), no Rio de Janeiro, em uma família humilde e evangélica.  
  • Pai: Agostinho Reinaldo, motorista de ônibus. Mãe: Creuza Firmo, dona de casa.  
  • Teve uma infância modesta no bairro de Campo Grande (RJ).  
  • Casou-se com Jair Bolsonaro em 2007, após trabalhar como secretária parlamentar em seu gabinete.  

Escândalos envolvendo a Família Bolsonaro 

1. Quebra de decoro familiar

  • Antes de se casar com Michelle, Bolsonaro teve um affair com ela enquanto ainda era casado com sua segunda esposa, Ana Cristina Valle.  
  •  O relacionamento começou quando Michelle tinha 22 anos e Bolsonaro, 52.  

2. Luxo com dinheiro público

  • Michelle reformou o Palácio da Alvorada com gastos de R$ 6,7 milhões, incluindo itens de luxo como cristais e porcelanas.  
  • Enquanto isso, o governo cortava verbas da saúde e educação.  

3. Parentes no governo

  • A irmã de Michelle, Érica, foi nomeada para um cargo comissionado na Secretaria de Cultura (salário de R$ 11 mil), sem experiência na área. 

Janja Lula da Silva: Da militância ao Palácio  

Origem e Formação Familiar

  • Nascida Rosângela da Silva (Janja) em 1974, em Curitiba (PR), em uma família trabalhadora e politizada.  
  • Pai: Geraldo da Silva, operário. Mãe: dona Zélia, dona de casa.  
  • Cresceu em um ambiente de luta social, influenciada pelo movimento sindical.  
  • Casou-se com Lula em 2022, após anos de militância conjunta no PT. 

Família e compromisso social

  • Janja não colocou parentes em cargos públicos, diferentemente de Michelle.  
  • Mantém uma postura de transparência, sem escândalos de nepotismo.  

Escândalos inexistentes X ataques políticos

  • Janja não tem processos ou denúncias contra si ou sua família.  
  • Mesmo assim, é alvo constante de fake news da extrema direita, que tenta associá-la a supostos esquemas de corrupção sem provas.

Lula e Janja estão sempre demonstrando felicidade e alegria
O que está em jogo

A "disputa" entre Janja e Michelle simboliza dois projetos de sociedade:  

  • Janja representa mulheres que ocupam espaços de poder com autonomia.  
  • Michelle encarna o ideal conservador de esposa submissa, sem questionar o machismo do governo Bolsonaro.  

Enquanto a direita ataca Janja por ser intelectual e politizada, Michelle foi poupada porque não ameaçou o status quo. A verdadeira questão é: por que uma mulher com voz própria ainda assusta tanto?

Janja começou a ser atacada quando entrou no debate sobre a regulação das redes sociais. Ela defende que a regulação deve ser prioridade para o governo. Segundo ela, a implementação das normas seria uma forma de estabelecer “regras de convivência” no ambiente virtual.

Janja foi vítima de um hacker ao ter seu perfil na rede social X, antigo Twitter, invadido. Ela criticou o dono do X, Elon Musk. Recentemente voltou a ser atacada por opinião contra os crimes contra mulheres e crianças por meio da rede Tik Tok. Janja também é vítima constante de fake news por pura misoginia, machismo e preconceitos.

A primeira-dama pode e deve ter voz

Enquanto a extrema direita prega "valores tradicionais", sua narrativa esconde misoginia pura —a ideia de que mulheres devem servir, nunca liderar. E esse foi um fatores que levaram a derrubada da presidenta Dilma Rousseff do cargo, uma mulher séria, honesta, protagonista e vítima da Ditadura Militar e de um golpe parlamentar organizado pela direita brasileira.

O debate não é sobre qual modelo está "certo", mas sobre por que uma mulher politizada causa tanto incômodo. Janja representa a quebra de um tabu, enquanto Michelle simbolizou a resistência ao avanço feminino. 

Janja e Michelle: diferenças na visão de mundo e na defesas de bandeiras

Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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