
O ex-presidente Jair Bolsonaro classificou como “perseguição” e “maldade” a prisão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), detida na terça-feira (29) em Roma, na Itália. A declaração foi feita durante um encontro com aliados no escritório do Partido Liberal, logo após ele participar de uma motociata em Brasília. Segundo relato do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que acompanhava Bolsonaro no evento, o ex-presidente demonstrou indignação ao ser informado da prisão e pediu que o parlamentar acompanhasse o caso de perto. “É muita perseguição e maldade com ela”, teria dito Bolsonaro.
Caso Zambelli
Carla Zambelli foi considerada foragida pela Justiça brasileira desde junho, após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão pelos crimes de invasão ao sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica. De acordo com a investigação, ela contou com a ajuda do hacker Walter Delgatti Neto para cometer as fraudes.
A condenação levou à perda automática de seu mandato parlamentar e à emissão de um mandado de prisão preventiva, motivando sua saída do Brasil. A defesa da deputada afirma que ela se entregou voluntariamente às autoridades italianas e solicitou asilo político sob alegação de perseguição judicial no Brasil. No entanto, essa versão é contestada por fontes oficiais.
Em nota, o Ministério da Justiça informou que a prisão foi realizada pelas autoridades italianas em colaboração com a Polícia Federal e a Interpol, como resultado direto de um mandado expedido pelo STF. O governo brasileiro também confirmou que a deputada será submetida a um processo de extradição, conforme os tratados internacionais em vigor.
A prisão repercutiu fortemente no meio político. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, declarou que a Casa já iniciou os trâmites legais para formalizar a cassação do mandato de Zambelli, embora ela já esteja afastada em decorrência da condenação.
Procedimentos após a prisão
A Justiça italiana tem até 72 horas para decidir se mantém Carla Zambelli presa ou se autoriza sua liberdade sob medidas cautelares. Depois disso, o Ministério da Justiça da Itália terá até dez dias para analisar o pedido de extradição feito pelo governo brasileiro. Apesar de Zambelli possuir cidadania italiana, isso não impede a extradição, desde que os crimes cometidos sejam de natureza comum, e não política, conforme estabelece o tratado bilateral de extradição firmado entre Brasil e Itália em 1989.
A defesa pretende sustentar a tese de que a condenação de Zambelli tem motivação política, com base na narrativa bolsonarista de que seus aliados são alvos de perseguição por parte do atual governo. O argumento, porém, será avaliado com cautela pelas autoridades italianas, que tendem a seguir critérios técnicos na análise da legalidade da extradição.