De acordo com uma investigação conduzida pela Bloom, organização independente dedicada a questões ambientais e climáticas, 100% de 148 latas de atum comercializado para consumo em cinco países europeus — analisadas numa inspeção aleatória — registraram contaminação por mercúrio.
57% das latas avaliadas tinham nível de contaminação que supera o limite máximo definido para peixes pela União Europeia (que é de até 0.3 mg/kg). Uma delas, proveniente de uma unidade do Carrefour na cidade de Paris, tinha um nível 13 vezes maior que o limite especificado — foram encontrados 3.9 mg/kg de mercúrio na lata comercializada.
Mais casos de tóxicos ilegais na França
Uma investigação conduzida na província francesa de Aunis revelou que o alarmante aumento no número de casos de câncer infantil registrado desde 2018 na região costeira tinha relação com a utilização de pesticidas proibidos pela legislação da União Europeia.
As regras para substâncias tóxicas continuam a ser quebradas no país, mostra a investigação atual da Bloom, que também analisou centenas de documentos oficiais de autoridades internacionais de saúde, como a agência de Segurança Alimentar Europeia, o comitê da Organização Mundial de Saúde e a própria Comissão Europeia.
"Nossa investigação revelou que nenhum método que considere as consequências de saúde para adultos e crianças é usado para definir os níveis máximos de mercúrio no atum", diz a ONG. As autoridades europeias "escolheram uma abordagem que está completamente em desacordo com o seu dever de proteger a saúde pública: elas utilizam a 'contaminação real' do atum para estabelecer um limiar que garante que até 95% [do atum contaminado por mercúrio] pode ser vendido".
Isso significa que a tolerância para os níveis de contaminação no atum é até três vezes maior que o de outras espécies, como o bacalhau.
Os outros países cujas latas de atum foram avaliadas são Alemanha, Inglaterra, Espanha e Itália. O limite calculado para a contaminação em todos esses países leva em conta o "produto fresco", o que pode significar uma concentração total da substância de até 2,7 mg/kg na versão em conserva, já que o mercúrio fica mais concentrado após a desidratação.
Contaminação por mercúrio
O mercúrio, que se acumula nos tecidos dos peixes maiores devido à poluição ambiental (como a queima de combustíveis fósseis, a liberação de resíduos industriais em corpos d'água e processos de erosão natural), tem efeitos prolongados no organismo humano.
Os danos ao sistema nervoso incluem perda de memória, dificuldade de concentração e aumento do risco de doenças degenerativas, como o Alzheimer; além disso, ele pode causar problemas renais e digestivos e contribuir com disfunções cardíacas, porque eleva a pressão arterial e o risco de doenças cardiovasculares.
Em mulheres grávidas, a ingestão de mercúrio pode comprometer o desenvolvimento neurológico do bebê, afetar a formação de órgãos e do sistema imunológico, além de constituir um risco ao parto prematuro.
A Bloom e outras organizações agora pedem às autoridades de regulação da União Europeia que ponham em prática medidas de emergência sobre a comercialização dos produtos investigados, e apelam para que revejam sua legislação acerca do limite máximo de mercúrio permitido — e da forma como ele é avaliado.
Também demandam punições mais duas àqueles distribuidores que não seguirem as regras de comercialização do atum.
Fonte: Revista Fórum