
Em 2011, Márcia Noleto perdeu sua filha Mariana em um acidente de helicóptero. A partir dessa perda, o luto se tornou parte da sua vida não só como algo pessoal, mas também como estudo e missão.
Ela criou o grupo Mães sem Nome e passou a estudar psicologia para entender melhor essa dor tão profunda. O grupo já acolheu milhares de mulheres em todo o país, e algumas dessas histórias estão no seu livro recém-lançado: Luto Materno, baseado em sua pesquisa de mestrado.
Hoje, mais de 20 psicólogas voluntárias ajudam mães que se reúnem virtualmente ou presencialmente para conversar, ouvir umas às outras e encontrar força nesse caminho tão difícil. Em datas como o Dia das Mães, o grupo monta um plantão especial para dar suporte individual a quem mais precisa.
Márcia explica que essa é uma época muito sensível para essas mulheres. Elas continuam sendo mães, mas sentem a dor de não poder estar com seus filhos. Mesmo assim, ela traz uma mensagem de esperança: “A dor nunca vai embora totalmente, mas é possível se reconectar com a vida.”
Como tudo começou
Antes da tragédia, Márcia trabalhava há 20 anos no Consulado da França. Foi no Facebook, após pedir orações para a filha, que outras mulheres começaram a procurá-la — muitas também haviam perdido filhos. Com o tempo, esse contato virou um grupo.
Ela decidiu estudar psicologia com o propósito de ajudar essas mães. Segundo ela, o poder público não oferece o apoio necessário e muitas mães sofrem em silêncio, enfrentando dificuldades no trabalho, na saúde e na vida social.
O nome do grupo
O nome Mães sem Nome surgiu porque não existe uma palavra para descrever uma mãe que perdeu um filho. Existe viúva, órfão, mas não há termo para essa dor. É uma sensação de estar “entre dois mundos”: sem passado, presente ou futuro. É uma dor sem nome, profunda e solitária.
A dor invisível
Márcia conta que muitas vezes a sociedade não sabe como lidar com essa dor. As pessoas se afastam, por medo ou por não saber o que dizer. Algumas mães vão buscar ajuda com psicólogos e escutam frases como: “isso vai passar”. Mas não é isso que elas precisam ouvir.
Palavras como “superação” são mal recebidas, porque essa dor não se supera. O que é possível é um realinhamento com a vida, um jeito novo de viver, respeitando a saudade.
O luto não é uma doença
Márcia critica o fato de que, hoje, o luto aparece como transtorno em manuais médicos. Para ela, isso é um erro. Ela defende que a dor do luto é existencial, não é depressão em todos os casos. Cada mulher sente de um jeito, mesmo que a causa da perda seja parecida.
Após perder a filha, Márcia Noleto fundou o grupo Mães sem Nome e estudou psicologia Foto: Fernando Rabelo
O livro Luto Materno traz relatos reais e também uma parte mais filosófica. Márcia estudou fenomenologia, uma linha que valoriza o sentimento e a experiência humana, sem rotular. Ela cita pensadores como Freud e Heidegger para mostrar que precisamos encarar a dor e a finitude como parte da vida.
Os encontros do grupo acontecem online às quartas e sextas, e também aos sábados presencialmente em Brasília. Qualquer mãe pode entrar. Pode falar, ouvir ou apenas estar ali com a câmera desligada. O importante é saber que não está sozinha.
O Dia das Mães e outras datas
Datas comemorativas são momentos muito difíceis para quem perdeu alguém. No caso das mães que perderam filhos, o Dia das Mães é ainda mais delicado. É um lembrete da maternidade e da ausência. Mesmo mães que têm outros filhos se sentem divididas entre a dor e o amor que ainda podem oferecer.
Por isso, o grupo faz um plantão de acolhimento, para que essas mulheres encontrem um lugar seguro para conversar, se emocionar e se cuidar.
Como ajudar
Para quem convive com uma mãe em luto, a dica é simples: esteja presente de verdade. Um abraço, um olhar, um silêncio compartilhado valem mais que palavras. Respeitar o tempo e o espaço dela é o mais importante. E lembrar que é possível sim viver com essa dor — guardada num lugar afetivo e respeitoso do coração — e, ao mesmo tempo, sentir alegrias novamente.
Quem quiser ajuda pode entrar em contato pelo Instagram do grupo: @maessemnome2023. Elas estão prontas para ouvir, acolher e cuidar.
Fonte: Agência Brasil