A contaminação do rio Paraopeba, após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, ainda afeta comunidades na região metropolitana de Belo Horizonte.
Estudo realizado pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) estima que a limpeza do rio, essencial para a recuperação do ecossistema e garantia da qualidade da água, pode levar de 44 a 741 anos.
O desastre de Brumadinho, que resultou na morte de 270 pessoas, provocou danos irreparáveis para moradores, como Hélia Baeça, que vive a 50 metros do Paraopeba. “É uma sensação de tirar o que é da gente, sabe? Uma sensação muito ruim”, relata Hélia, que viu sua rotina ser drasticamente alterada e perdeu a possibilidade de usar o rio para atividades cotidianas como pesca e lazer.
Após o acidente, a Vale firmou um acordo com o governo de Minas Gerais e instituições de Justiça, comprometendo-se a realizar a limpeza do rio, sem limite de custo. Contudo, o estudo do Nacab aponta que a remoção dos rejeitos pode durar até 741 anos, um prazo que varia conforme as divergências sobre a quantidade de rejeitos despejados no Paraopeba e a eficiência das dragas utilizadas na operação.
A mineradora Vale estima que 1,59 milhão de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no rio, enquanto estudos independentes indicam que esse volume pode ser de 2,8 milhões de metros cúbicos.
Segundo o engenheiro florestal Hugo Salis, um dos autores do estudo, a dificuldade na remoção se deve ao assentamento dos rejeitos no fundo do rio, o que diminuiu significativamente a quantidade retirada por dia. “A relação de rejeitos e sedimentos se modificou, tornando a limpeza ainda mais difícil”, explica Salis.
Especialistas, como o autor do estudo Ramon Rodrigues, questionam a viabilidade de uma limpeza total do rio. Rodrigues sugere que, caso a Vale não consiga concluir o trabalho, a mineradora deveria compensar financeiramente os atingidos. "Quanto vale um rio?", indaga Rodrigues, apontando a complexidade do cenário.
Em resposta, a Vale afirmou que tem conduzido ações contínuas para a limpeza do Paraopeba e que a remoção dos rejeitos é dificultada pela mistura com sedimentos naturais em certos trechos do rio. A empresa acrescenta que está avaliando soluções técnicas adequadas, em colaboração com os órgãos competentes.
Embora a dragagem seja um processo importante, o professor Fernando Pacheco, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal), destaca que o rio também passa por uma limpeza natural ao longo do tempo, com o rejeito se misturando aos sedimentos de outros cursos d'água.
Pacheco, que participou de estudos sobre o abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte, estima que a qualidade da água do Paraopeba possa ser restaurada para consumo em 6 a 8 anos. Contudo, a recuperação total dependerá de fatores como a quantidade de precipitação.
A avaliação sobre a utilização da água do Paraopeba para abastecimento será realizada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que acompanha parâmetros como turbidez e a presença de metais pesados. A autorização para o retorno do uso da água no Sistema Paraopeba dependerá da melhora na qualidade da água e da recuperação dos ecossistemas afetados.
Fonte: Com informações de Diário do Centro do Mundo