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Desastre natural ou erro humano? Especialistas avaliam inundações no RS

Os especialistas têm opiniões divergentes sobre impactos da ocupação irregular e uso do solo

Da Redação

Quarta - 15/05/2024 às 08:39



Foto: Pref.de Canoas/Divulgação Chuvas no Rio Grande do Sul
Chuvas no Rio Grande do Sul

A recente tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, que resultou na morte de quase 150 pessoas, tem gerado debates sobre suas causas. A questão é se a catástrofe foi um evento natural imprevisível e inevitável, ou se houve uma contribuição significativa da ação humana, especialmente no que diz respeito à ocupação do território, ao desenvolvimento urbano e ao uso do solo.

Especialistas em recursos hídricos, com conhecimentos em geologia, agronomia, engenharia civil e ambiental, foram consultados pela Agência Brasil. Eles concordam que o evento foi extremo e sem precedentes, intensificado pelas mudanças climáticas globais. No entanto, há divergências quando se trata do papel das atividades econômicas e da ocupação do território.

Rualdo Menegat, geólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), critica as políticas de planejamento urbano e econômico no estado. Ele acredita que a tragédia não pode ser atribuída apenas à grande precipitação, mas também a sérios problemas de gestão.

“Os planos diretores da cidade foram desestruturados para facilitar a especulação imobiliária. No caso de Porto Alegre, por exemplo, toda a área central que hoje está inundada no porto, foi oferecida para ser privatizada e ocupada por espigões. Houve um sucateamento do nosso sistema de proteção, como se nunca mais fosse haver inundações”, diz Rualdo.

Menegat argumenta que os planos diretores foram desmantelados para facilitar a especulação imobiliária. Ele cita o exemplo de Porto Alegre, onde a área central, atualmente inundada, foi disponibilizada para privatização e construção de arranha-céus. Ele também menciona o desmatamento de vegetação nativa para fins imobiliários como um fator que dificulta o escoamento da água da chuva.

“Grande parte do planalto meridional tem sido intensamente ocupada pelas plantações de soja no limite dos arroios, destruindo a mata auxiliar e os bosques. E também os banhados, que acumulam água e ajudam que ela não ganhe velocidade. O escoamento de água passa a ser muito mais violento e em maior quantidade, porque não há tempo para infiltração”, diz Rualdo.

Paulo Canedo, professor de recursos hídricos da Coppe/UFRJ, acredita que ainda é necessário uma análise mais detalhada da situação. No entanto, ele enfatiza que o desenvolvimento econômico e social, sem medidas estruturais e preventivas adequadas, facilita as inundações.

Canedo reconhece que a chuva foi realmente extraordinária, mas também aponta que o progresso da região trouxe dificuldades de escoamento. Ele sugere que muitas atividades econômicas podem ter sido desenvolvidas de maneira insustentável, sem criar condições para lidar com o aumento da impermeabilização do solo.

Outra questão em debate é se o investimento em certas atividades agrícolas, com consequentes alterações da vegetação nativa, contribuiu para a fragilização dos solos e o processo de escoamento da água. Menegat acredita que esse foi um dos fatores que aumentaram o impacto das chuvas no estado. Ele cita o exemplo de plantações de soja no planalto meridional, que têm destruído a mata auxiliar e os bosques, além de banhados que acumulam água e ajudam a controlar sua velocidade.

Fonte: Agência Brasil

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