A política piauiense, como em todo o Brasil, é palco de estratégias, alianças e migrações. No entanto, algumas trajetórias se destacam não pela constância de suas ideias, mas pela agilidade com que trocam de sigla. A mais recente encarnação desse fenômeno é o ex-deputado federal José de Andrade Maia Filho, o Mainha, que agora ameaça bater o recorde de versatilidade partidária que pertencia ao ex-senador João Lobo, o célebre "João do Pulo".
A história se repete, mas agora com um novo protagonista. Enquanto João Lobo ficou marcado na memória política por suas sucessivas mudanças em um curto período, Mainha parece ter transformado a troca de partido em uma ferramenta de carreira de longo prazo. Sua jornada partidária é um mapa da volatilidade da política brasileira: começou no antigo PFL, passou pelo Solidariedade (SD), PP, PL e, sua mais nova casa, o Podemos (PD). Antes, porém, flertou com o PT, ocupando cargos nos governos de Wellington Dias e de Rafael Fonteles.
Carreira municipal
Para entender a ambição de Mainha, é crucial olhar para sua base de poder. Sua carreira foi construída a partir de Itainópolis, onde foi prefeito por dois mandatos (1997-2004). Essa base municipal lhe rendeu projeção estadual, culminando em duas passagens pela presidência da Associação Piauiense de Municípios (APPM). Agora, aos 51 anos, o sonho declarado é um só: ser governador do Piauí.
O problema é que o caminho até o Palácio de Karnak tem sido pavimentado com desentendimentos e portas que se fecham. Sua última passagem pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, terminou em frustração. Mainha alimentava a esperança de ser o candidato da legenda ao governo em 2026. No entanto, a cúpula estadual do partido, liderada por Thiago Junqueira, preteriu o ex-prefeito e optou pelo radialista Tony Rodrigues como nome para o pleito.
A reação foi imediata e previsível. Os desentendimentos com a direção estadual do PL levaram Mainha a pedir desfiliação e buscar abrigo no Podemos. A cerimônia de filiação, cercada de pompa, contou com a presença do vice-presidente nacional do partido, Pastor Everaldo, sinalizando que Mainha foi recebido como uma aquisição de peso.
Projeto pessoal
Aqui reside o cerne da questão que a trajetória de Mainha levanta: em um cenário onde as ideologias partidárias, por mais fluidas que estejam, ainda importam, o que define um político que muda tão frequentemente de sigla? A comparação com "João do Pulo" não é mero acidente histórico. É um diagnóstico de uma prática que desorienta o eleitor.
O eleitor médio, que busca se orientar por programas de governo e posicionamentos, fica perdido. O que Mainha defende? Quais são seus princípios norteadores, que sobrevivem intactos ao sair do PFL, passar pelo PL (sempre na direita) e chegar ao Podemos, um partido que busca se reposicionar no espectro? A impressão que fica é a de que o projeto de poder é pessoal, sobrepondo-se a qualquer bandeira coletiva.
A busca por uma legenda que lhe ofereça viabilidade e espaço é legítima em um sistema multipartidário complexo. No entanto, quando a mudança se torna a única constante, a política se esvai em um jogo de cargos e oportunidades, esvaziando-se de seu conteúdo programático. Mainha, com sua experiência e base eleitoral, tem o direito de ambicionar o governo. Cabe ao eleitor piauiense, no entanto, observar se por trás do "pulo" existe um projeto de estado consistente ou apenas a sombra de um oportunismo que já tem dono na história: o "João do Pulo".

Luiz Brandão
Mais conteúdo sobre:
#Mainha #José Maia Filho #João do Pulo #João Lobo #Piauí #política piauiense #mudança de partido #Podemos #PL #Tony Rodrigues #governador do Piauí